Mais uma vez atravesso um período de quatro anos consecutivos, o dia mais triste de minha vida. Era uma tarde cinzenta de outono quando estive pela última vez com Lurdinha, minha esposa, visitando-a no hospital. Estava nos últimos momentos de sua existência, mas ainda consciente, falando baixinho com um leve sorriso em seus lábios, mas certamente padecendo de sua inclemente doença.
Deitada sobre a cama hospitalar, bem juntinho a ela, lembramos alguns momentos marcantes de nossa vida. E sua imaginação mostrava-se atuante, acrescentando outras lembranças que porventura havia esquecido.
Teria ali permanecido o tempo que fosse permitido, ouvindo sua carinhosa voz trocando palavras de amor. No entanto, por algum motivo que não me lembro, tive que ausentar-me por alguns minutos.
E nessa rápida e infeliz ausência, ao retornar e aproximar-me de seu quarto, deparei-me com um corre-corre de médicos e enfermeiras e a encontrei inerte, olhos cerrados, e tão bela como sempre foi, e tão serena como sempre agiu.
Gritei desesperado para que alguém fizesse algo que a trouxesse novamente à vida. Que lhe concedessem um pouquinho mais de força. Mas já era tarde. Ela partiu sem ao menos ter conseguido dizer-me adeus...
Jamais havia imaginado que isso aconteceria comigo. Nós, que abraçamos a vida conjugal por mais de sessenta anos ao lado dos filhos e netos e como jornalistas vivenciamos sempre juntos a beleza, a vida, e a cultura dos mais diferentes povos ao redor do mundo, e dessas viagens aprendemos as lições necessárias para uma feliz convivência.
Mas o momento da separação havia chegado. De nada adiantaram os mais diferentes tipos de tratamento sob as mãos de amigos médicos e o uso dos mais recentes fármacos na época utilizados para a combater a doença.
De nada valeram minhas súplicas a um Deus e a seus Santos que ela acreditava existirem. Mas todos a ignoraram naquele momento de dor.
Resta-me agora, como faço normalmente, visitá-la ao campo-santo onde repousa ao lado de minha mãe, e deixar-lhes simbolicamente um ramalhete de flores que representa todo meu amor, e meditar sobre elas.