Estacionei o carro à margem da estradinha de terra. Dali em diante, só a pé. Fui…
A trilha até a cachoeira exige pouco esforço: míseros setenta passos. O terreno, relativamente limpo e sem obstáculos, torna a caminhada mais agradável em seu suave declive. A imensidão verde estanca no limite da estreita faixa onde os urbanoides circulam.
Nestes dias de temperaturas desérticas, esse corredor ecológico transporta o vivente da secura infernal para um recanto de águas abundantes, frescas e limpas. Banhos ali são mais do que refrescantes - são restauradores de civilidade. O mergulho na piscina natural resgata uma dignidade quase destruída pelo calor que não é de Deus.
Bicho do asfalto e gorducho, desço vagarosamente ao paraíso. Ressabiado com o cenário off-cidade, avanço com cautela para que peçonhas não estraguem meu recreio. Observo muito e, perdão cachorrada, também farejo.
Céus! Tem veneno no pedaço!
Um veneno com a substância letal da morenice brasuca.
No deck rochoso, uma beldade esculpida em harmônicas sinuosidades relaxa sem qualquer material têxtil ou sintético a cobrir-lhe as vergonhas. Seu traje se resume a um par de Havaianas num extremo e óculos ao estilo Jackie Kennedy no outro. Fones nos ouvidos e um geme-geme ritmado denunciam que ela escuta Marisa Monte.
A pose de estátua erótica se quebra de leve com os lentos movimentos que a acomodam numa posição mais confortável. Lagartear ao léu é preciso…
Respeitoso com o repouso alheio, abstenho-me de qualquer aproximação que pudesse provocar um gesto afoito para esconder pele e pelos.
Admirador da natureza bruta, camuflo-me nos arbustos como um paciente fotógrafo da National Geographic.
Buscador incansável da paz conjugal, foco a câmera do iPhone na direção de paisagens menos insinuantes.
Faminto insaciável, depois de sessenta minutos plantado, abandono a posição de voyeur para devorar um curau no bosque de Águas da Prata.
Entusiasta de gente bem resolvida, aplaudo a socialite sanjoanense que, temporariamente, renunciou ao universo do jet set crepuscular para, numa quinta-feira de primavera, se desnudar sozinha e despreocupada num recanto recluso da floresta platino-pratense.
A mata densa, o canto das aves, o ruído da vigorosa catarata, a formiga operária, o milho verde e a moça nua se espreguiçando na pedra. Biodiversidade, eu curto!
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