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13/08/2024 às 15h56min - Atualizada em 13/08/2024 às 15h56min

Yucatécas

Lauro A. Bittencourt Borges - cronista gastronômico, viajante compulsivo e membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista
Instagram: @lauroborges
Lauro e Josiane Borges em Chichén Itzá, complexo arqueológico que foi o centro da civilização maia

 
A felicidade em Cancún vem num copo longo de mojito nos bares molhados das enormes piscinas dos hotéis espetaculares. Vem também no lindíssimo mar azul-esverdeado e na areia clara da famosa Riviera Maia. Tanto mimo, conforto e beleza, creiam, não rende mote ao cronista. A inspiração para o gênero está no inusitado, na gafe, no engraçado, está longe da perfeição estética de um mundo cor-de-rosa. Então...
 
Por um dia renunciamos, eu e Josi, a esta comodidade estrelada do resort all inclusive para conhecer um México menos cinematográfico e mais real. Optamos por um passeio no vizinho estado de Yucatán.
 
Primeira parada: a cidade colonial nominada Valladolid, fundada em 1543. Quando o ônibus estacionou na praça central da igreja de São Gervásio, o guia deu uma estranha saudação de boas-vindas. Disse o profissional ao sacar uma mochila e oferecer frascos de repelente por 10 doletas: “Protejam-se, a região está infestada de chikungunya e zika vírus”. Que merda! Além do corona teríamos que nos preocupar com outros bichinhos escrotos. Resultado do alerta e do preço abusivo do repelente de rótulo suspeito: depois da foto clássica em frente ao templo católico do século 16, saímos em disparada buscando uma farmácia que tivesse marcas mais confiáveis e preços menos doloridos. Ao ver dois caipiras suados regressando ao coletivo, o guia questionou: “¿Ustedes están bien?”. 
 
Segunda parada: um povoado (ou pequena cidade) maia de nome Xocenpich. Um senhor maia nos esperava à beira do mato com uma mesa cheia de peças de artesanato. Enquanto ele nos abençoava numa pequena cerimônia nativa, outro homem nos rodeava espalhando fumaça de incenso. Não tive certeza se o fumacê era parte da celebração maia ou se era para espantar os mosquitos virais que infestavam as cercanias. Certeza eu tive das intenções mais comerciais do que espirituais da, com o devido respeito, pajelança. Terminada esta, fomos informados do quão importante seria comprar o (caro) artesanato bento. Também fomos convidados a uma ses$ão particular com o líder religioso. Temi pela nossa alma, pois não fiz nada do pre$crito. O almoço tipo buffet, ali mesmo e incluso no tour, foi no restaurante Yaxkin. Se o espírito não foi alimentado, o corpo foi abençoado com fantásticos tacos al pastor e de COCHINITA PIBIL, ambos preparados com tortillas feitas manualmente. Vá no Google, digite COCHINITA PIBIL e entenda o que esta iguaria de carne de porco significa para Yucatán.
 
Terceira parada: Chichén Itzá, o incrível complexo arqueológico que foi o centro da civilização maia. O local, que é Patrimônio da Humanidade (UNESCO) desde 1988, abriga ruínas que têm uma gigantesca dimensão histórica. Fomos conduzidos no passeio pelo guia Rodrigo que, além de ser um conhecedor profundo da cultura maia, nos surpreendeu ainda com saberes mais contemporâneos no findar da visita: “Te daré consejos para conseguir fotos geniales para tu Instagram”.

Quarta parada: um CENOTE. Até semanas atrás eu não sabia o que é um CENOTE. Nada a declarar, exceto a correria que foi saltar do autobús, comprar bilhetes, colocar roupa de banho, tomar uma ducha, descer ao CENOTE, cair na água, posar para fotos, apreciar a maravilha natural, trocar o traje mínimo e, ufa!, retornar ao  veículo. Tudo isso em trinta sufocantes minutos! Você sabe o que é um CENOTE?

 


 
 

 
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