22/07/2024 às 16h13min - Atualizada em 22/07/2024 às 16h13min

Se essa rua fosse a minha

Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
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Foto meramente ilustrativa - Reprodução Google

 
Sabadão. Acordo depois da sesta habitual (afinal é sexta ou sábado?) e ouço barulhos de movimentação na rua.
Será um acidente de carro? Um assalto? O MST invadindo a propriedade alheia?
Abro a janela e noto um grupo de crianças, adolescentes, cachorros, gatos, papagaios, entre bicicletas, patins, mesas de pingue-pongue, sinuca...
Meu Deus! O que estaria acontecendo?
Penso: uma revolução está a caminho. Já não era sem tempo!
 
Começo a notar também que os adultos (os pais dos filhos, dos cachorros, gatos e papagaios) começam a sair de casa e com eles, mesas, toalhas e cadeiras.  
Será uma festa junina? Alguém importante fazendo aniversário?
 
Um menino indaga ao notar minha presença na janela:
- Aê tio! Vai ficar aí só olhando?
Resolvo descer e entrar na folia. Não quero nem saber quem nasceu, eu quero é sorrir.
Fui passando pelas mesas que já estavam cheias de gostosuras e parecia que todo mundo se conhecia.
 
Uma menina ruiva de uns 7, 8 anos, cheia de sardinhas no rosto, daquelas que a gente vê em filme, se aproximou de mim e sorrindo disse:
- Você quer brincar comigo?
Fiquei meio sem saber o que dizer. Brincar? Nessa altura do campeonato?
Mas, levado pelas mãos dela, abortei minhas descrenças e lá fui eu a brincar com a menina de sardas.
Aos poucos, outras crianças, adolescentes e adultos foram dando as mãos e de repente, estávamos todos envolvidos em uma roda gigante de alegria em uma festa sem nome.
 
Estranho mesmo é que todos se entendiam por gestos, no abraço, no apertar de mãos, nos olhares, nos sorrisos. Não havia um idioma e a linguagem corporal parecia substituir todas as frases.
Era o céu na Terra e eu me extasiando com aquela emoção, por sentir tanta harmonia.
 
Envolvido neste cenário, percebo uma criança em uma dessas bicicletas antigas vindo em minha direção acionando aquela buzina com o som da infância. Trim! Trim! Trim!
Foi nesse momento que o som da buzina da bicicleta se fundiu com outro som.
Era o meu despertador a despertar-me para a realidade.
Abri os olhos, como quem desejasse mantê-los fechados, levantei-me e fui até a janela.
O silêncio era total. Não havia ninguém e a rua permanecia, como antes, fria e silenciosa. As casas fechadas, os muros altos, as câmeras de segurança.
Mas, de repente, vejo uma menina se aproximando de minha casa.
Era uma menina ruiva que, ao notar-me, sorriu e continuou seguindo pela rua.
 
 
 




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