10/07/2024 às 16h37min - Atualizada em 10/07/2024 às 16h37min
Quando a viuvez interfere em nossa vida...
Por Odair Camillo - Jornalista
Passados três anos que minha esposa se foi, a solidão de uma viuvez parece ter aumentado, embora a presença e o carinho dos filhos e netos procurem amenizá-la. Tento reagir, e despertar dessa pior fase de minha vida.
Em busca de uma saída honrosa dessa amargura, penso em desfazer-me de todas as coisas e objetos que sempre foram considerados as “relíquias” de minha Lurdinha, e que fazem-me lembrar sempre dela, com quem convivi por quase 70 anos. Suas fotos, tão belas como ela, ficarão preservadas, e guardadas para a eternidade, em um lugar especial.
Lembranças de amigos e de lugares, produtos das centenas de viagens que realizamos por esse mundo, telas valiosas e pratos decorativos de parede, ícones dos mais inóspitos e longínquos destinos turísticos, sacolas artesanais grafitadas, talvez a primeira compra de turistas ao chegarem no destino sonhado, tudo isso guardados num cômodo ao lado de minha mesa de trabalho.
Pelo apartamento está tudo que ela acumulou nos seus momentos de felicidade, procurando desvendar sua curiosidade pela história, pela vida e pela cultura de outros povos. Muita coisa interessante e maravilhosa que ela nos deixou. E não sei o que deles farei.
Estou na fase decisiva de minha vida. Cheguei à conclusão que não mais consigo morar no mesmo lugar onde por muitos anos vivemos tempos memoráveis. Onde a família residia quase toda no mesmo edifício, no mesmo endereço. Onde o churrasco e as festas aconteciam todo fim de semana ao lado da piscina. Agora, até a sua transparente e azulada água parece ter fugido pelos buracos invisíveis do vinil desgastado pelo tempo. Os netos e amiguinhos que dela se utilizavam, ficaram adultos, e não mais a procuram.
Estou convicto ter conseguido com a família, realizar grande parte de nossos sonhos. E agora, embora não esteja sozinho, sinto a necessidade de desfazer da propriedade na qual vivemos felizes por longos anos. Um apartamento desenhado por ela, de excelente localização, beleza e estrutura. Pretendo morar num lugar menor, onde possa manter unicamente tudo aquilo de bom que eu e Lurdinha vivenciamos em toda nossa vida. Na verdade, somente as coisas boas e maravilhosas que ela representou!