17/06/2024 às 15h50min - Atualizada em 17/06/2024 às 15h50min

Oh, Céus!

Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
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Figura meramente ilustrativa - Reprodução Google

 
Cheguei. Meio contrariado é verdade, afinal (e há final) a vida na Terra estava muito boa. Porém, como nunca gostei de calor e sempre ouvi falar que só havia dois lugares para curtir a tal da eternidade, melhor não reclamar em ter sido enviado à “morada dos deuses e dos anjos”.
 
Vale dizer que, ainda em terra firme, em meu velório, pude ouvir gente falando. “Cumpriu sua missão”. “Partiu dessa para melhor”. “O paraíso lhe aguarda”. “Vai descansar”.
Entretanto e, entre tantos, logo ao chegar à porta celeste, me deparei com uma placa em neon com os seguintes dizeres: 
“Seja bem-vindo ao Céu. A vida continua e o trabalho também”. Hein?
 
Outro fato que me deixou sem asas e sem Red Bull foi ter ficado procurando, sem sucesso, os tais anjinhos tocando cítaras.
 
Mas, o que me incomodou mesmo na chegada foi porque sempre ouvi dizer que no céu reinava o maior silêncio. Nada mais equivocado.  É um barulho infernal (ops).
Imensas filas acontecem para o cadastro/recepção dos recém-chegados e diversas línguas são faladas ao mesmo tempo. Uma verdadeira Torre de Babel.
Vi e ouvi um cara com idade próxima aos 40 anos, vestido com a camisa do Corinthians e cantando “Monte Castelo” do Legião. “Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos...”
Próximo a ele, um grupo de amantes do Led Zepellin, desafinados, entornavam “and she´s buying a stairway to heaven..”
No palco celeste, notei ainda um velho de botas longas e barbas longas (achei até que era o profeta Maomé), com voz rouca repetindo, como um disco riscado “knock-knock-knockin on heaven´s door...”
 
Em meio a todo esse “céunário”, entrei na fila do cadastro.
A recepcionista (no crachá, o nome era “Celeste”) me atendeu com um sorriso e olhos azuis celestes. Pensei. “Estou no paraíso mesmo”. Até cantarolei internamente “Minha pequena Eva, o nosso amor na última astronave...”.
(Preste atenção! Já já lhe mandam para o andar debaixo).
Melhor não. Foquei então nas perguntas formuladas pela Celeste.
Nome. Idade. País de origem. Profissão. Filiação. Não entendi muito bem o tal questionário, pois achei que já tinham meu cadastro de outras encarnações, sei lá.  Mas, muita karma nessa hora, minhas dúvidas foram esclarecidas, quando li em um cartazete:
“Atenção! Estamos modificando o nosso software. Agora todas as informações ficarão nas nuvens. Dúvidas e reclamações? Fale com o Papa, ou seja, São Pedro”.  Nada mudou. Qualquer semelhança com a Terra não seria mera coincidência.
Ao final do questionário, Celeste me questionou: “Onde você quer trabalhar?”.
Como assim? Havia lido que não se trabalha no Paraíso. (Se bem que meu primeiro emprego foi justamente na Casa Paraíso em Poços, mas isso é outra história). 
Achei que, finalmente, iria tirar uma soneca eterna. Rest in Peace. Cadê o Nirvana? Shangrilá?
Tive vontade de apresentar minha aposentadoria pelo INSS e quase perguntei se Deus continuava descansando depois de ter construído o Cosmos.
Por outro lado, refleti: não haveria muita lógica de não haver trabalho no céu. Vamos combinar: já imaginou ficar a vida eterna escutando anjinhos tocando cítaras, andando ou voando sobre as nuvens, ouvindo cânticos de louvor, sem nada para fazer? Ah, com certeza, morreríamos de tédio.
Mas, voltando à pergunta da Celeste, por ser jornalista e gostar de uma boa fofoca (os pecados continuam), acabei por escolher trabalhar no Sétimo Céu, mas, posteriormente, vi que nada tinha a ver com a revista brasileira famosa dos anos 1960 a 2000 e sim, era um dos céus, existentes no Céu.
 
Apesar de muitas semelhanças com a Terra, percebi, logo de cara também, uma característica divina no céu que vale o registro. Ninguém usa “céulular”. Acredita? Assim, não há Instagram, Facebook, Tik Tok, WhatsApp. Minhas preces foram atendidas.
 
Bem, sei que existem ainda muitas dúvidas sobre o céu e não sou eu pobre mortal (ou agora, imortal?) para falar sobre tudo, até por que ainda não conheci tudo ainda e nem conversei pessoalmente com Deus, mas já agendei um papo com a secretária dEle, a Angélica.
 
Abraços a todos! A gente se vê por aqui...ou não.
 
 



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