02/09/2024 às 15h06min - Atualizada em 02/09/2024 às 15h06min
(Começou o mês da primavera e me lembrei do Chico Poeta...)
Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
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Foto meramente ilustrativa - Reprodução Google
Todos os dias, por volta de cinco horas da tarde,
quando o sol começava a se recolher,
lá estava ele, o Chico Poeta, como era conhecido,
sentado no mesmo banco na praça,
aguardando os pedidos, para começar a escrever.
Em suas mãos, um caderno espiral e uma caneta.
Ao seu lado, um cartaz em cartolina, fixado com fita adesiva,
escrito manualmente informava:
“Doa-se poesia. Faça o seu pedido.
Escreverei o que der na veneta”.
E assim, durante cerca de uma hora, pessoas,
as mais simples e as mais empertigadas, faziam seus pedidos ao Chico, que no alto dos seus 70 anos, era uma máquina de escrever. Parecia até que psicografava cada frase que viesse a discorrer.
Os temas eram variados e muitos o desafiavam, apenas pra ver. “Chico, me faça uma poesia sobre banana”, pediu o jovem audaz.
E veio a poesia que assim dizia: “Banana temos de muitos tipos, é só o cliente escolher. Temos a prata, a nanica, a maçã, qual a que vai querer? Mas se for apenas para encher o saco, banana mesmo é você!”.
Assim era ele. Direto, simples e curto, como um haikai.
Não se furtava de escrever sobre qualquer assunto, a vida ou a morte, o azar ou a sorte, a criança que nasceu, o pobre, o rico, o defunto.
Mas se tinha um tema que Chico gostava, quando alguém lhe pedia, esse era o amor. E quando isso acontecia, ele entregava a poesia, acompanhada de uma flor.
Assim, senão quando, um incerto dia, quando a tarde caia, uma menininha veio até ele e disse. “Chico, não quero a poesia, pois nem mesmo sei ler, mas posso levar a flor?”.
Disse ele então: “Ah, minha linda menina, na poesia, sou apenas um artesão. O maior poeta foi Deus, que transformou a poesia, em pétalas, em rosas, em botão. Leve a flor contigo, pois ela é a mais expressiva poesia, de tudo o que lhe possa dizer o meu coração”.
E foram dezenas de anos com o Chico Poeta na praça, com seu terno cinza amarrotado, chapéu coco usado, sapatos já surrados por tanto caminhar, escrevendo poesias, atendendo a pedidos, sem nada pedir ou cobrar.
Até que em uma tarde de sol, o banco da praça ficou vazio e toda a cidade a perguntar. “Cadê o Chico Poeta? Sem ele, como iremos ficar?”. Foi quando alguém olhou para o jardim ao lado do banco e notou que nova flor nascia. Linda, cheia de pétalas das mais diferentes cores, como há muito não se via.
Era o Chico Poeta que tinha se tornado flor como sempre foi a sua poesia.
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