08/01/2024 às 15h45min - Atualizada em 08/01/2024 às 15h45min
Praia não é a minha praia
Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
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Figura meramente ilustrativa - Reprodução Google C
Verdadeiramente, não sou um sujeito praiano.
Definitivamente, a praia não é a minha praia, pois nasci nas montanhas da Mantiqueira, no Sul das Minas Gerais, e ver o verde das árvores é mais familiar que o azul da cor do mar.
Sim, o mar me faz bem, mas não tenho paciência para ficar passando protetor solar a todo momento, já que o branco escritório me define e o medo do vermelho pimentão me acompanha permanentemente.
Por vezes, me sinto como bife à milanesa com aquela areia no corpo a me incomodar, além do que, ficar olhando para o infinito durante horas, com “aquele velho calção de banho e um dia para vadiar”, só mesmo Vinicius de Moraes, depois de algumas doses de whisky na cabeça.
Contudo, reflito.
A praia ainda é um dos poucos lugares democráticos no mundo. Ali, brancos, pretos, mulatos, pardos, pobres, ricos e remediados, idosos, crianças e adolescentes, dividem o mesmo espaço, por vezes, tão pequeno para tanta gente.
A praia é o local onde muitos buscam a reflexão, pular sete ondinhas, reverenciar Iemanjá, sintonizar a própria sintonia.
A praia nos desnuda e traz à superfície o que nos faz muito diferentes e ao mesmo tempo tão iguais: o nosso corpo.
Assim, gordos e magros, altos e baixos, pessoas com celulites, estrias e rugas, musculosos e bombados, esqueléticos ou barrigudos, desfilam na vitrine da praia, sem as réguas da estética, sem as limitações do belo, sem as censuras das academias.
Na praia, corpos esculturais ou esculpidos pelo talhar do tempo.
Por tudo, vale a pena, quando possível, ir à praia, seja para pegar um bronze ou salgar o bumbum, seja para o surfismo ou o bermudismo, e ali, ao olhar para o mar e pensar na vida, no início de um novo ano, ao som do Lulu, ter a consciência de que “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará.”
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