14/09/2023 às 15h10min - Atualizada em 14/09/2023 às 15h10min
D.O.A., café com propósito
Texto e Fotos: Angela Caruso
@batomnaxicara / www.batomnaxicara.com.br
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Os grandes centros espalhados pelo mundo têm se mostrado verdadeiros laboratórios quando o assunto é testar novos modelos de negócios, tanto em pequenos como grandes e sofisticados estabelecimentos. Mas, principalmente no comércio com propósito, que foca no pequeno produtor, na alimentação saudável, no slow living e na valorização do ´fazer com as mãos’. Espaços comerciais implantados em construções antigas, às vezes pequenos sobrados que recebem restauros com ares de rústico-sofisticado, vintage ou hipster, revitalizando as ruas de bairros, antes estritamente residências, mas que insistem em manter suas histórias tal como seus moradores.
Assim é a Vila Olímpia, entre a zona Sul e Oeste da capital paulista. Um bairro que já foi zona rural com suas chácaras à beira do rio Pinheiros, depois centro industrial e, posteriormente, uma zona de moradia misturada a comércio de serviços. Na virada do século 20 para 21, o bairro passa por uma transformação, a começar pela estrutura viária, derrubando antigas casas para dar lugar a grandes avenidas, abrigando edifícios de arquitetura sofisticada tanto para receber escritórios comerciais que formarão mais um polo financeiro da cidade, como para servir de moradia para novos habitantes do bairro pós processo de gentrificação.
D.O.A. Denominação de Origem Artesanal é um Empório Café localizado numa das principais ruas de comércio do bairro. O nome já carrega em si um propósito, um valor, uma vontade de manter viva a história de uma casa e as várias histórias de vida que fazem parte desse projeto idealizado por Fred, morador do bairro, ciclista por opção, adepto do bom e do belo, do simples que também é sofisticado. Uma dessas pessoas que se propõem a melhorar a vida de que passam por ali para um cafezinho, um lanche, um almoço, para trabalhar, para ler, para encontrar, para conversar. Enfim, Fred é um comprometido com a melhoria da vida do planeta.
Caminhávamos pelo bairro em busca de um lugar de café especial, tentando recordar o que era onde, uma vez que já fez parte da minha infância e mocidade. E por acaso, (se é que ele existe) descobrimos o D.O.A.
A casa de três andares já foi residência chic, com garagem e quarto do motorista da família no térreo, e um terraço no terceiro andar. A dona da casa, uma empreendedora da moda que, com o passar dos anos reformou a parte térrea da residência para transferir seu ateliê de costura e loja no mesmo endereço. Sabem os dois botõezinhos do colarinho das camisas masculinas, conhecido como colarinho americano? Foi ela quem trouxe para a cidade. Quando ela se vai, a família se muda e a casa fica vazia, sozinha, fechada, esperando a chegada de Fred e seu atrevido e visionário projeto D.O.A.
Fred transformou o sobrado em um empório, cujos produtos à venda provêm de pequenos produtores que ele foi pesquisando por dois anos nas feiras diferenciadas que São Paulo promove. O queijo, por exemplo, vem da Fazenda Atalia, em Amparo (SP), o azeite é o Borriello, de Andradas (MG), vinhos nacionais e assim por diante.
Além do empório, o lugar é uma charmosa cafeteria que oferece café especial no espresso, filtrado e na prensa francesa. Uma confeitaria com delícias para acompanhar o café, um bistrô para a hora do almoço, uma loja colaborativa com arte manual autoral em pintura, desenho, biojoias, peças decorativas, saboaria e outros.
Uma das salas no piso térreo virou uma biblioteca, dessas de verdade, para se pegar o livro emprestado. Fred catalogou exemplares em inglês, francês e espanhol. Os melhores 300 títulos indicados por revistas internacionais especializadas. Além de periódicos ímpares. Eles vivem ali, numa sala confortavelmente decorada esperando quem desejar se deliciar com uma boa leitura. A biblioteca já foi palco para lançamento de livros e encontro de uma confraria de vinhos.
No andar superior, um espaço de coworking, e no terceiro piso, um terraço para degustar o que a casa tem de bom, com céu aberto e vista para a Vila. Em todos os ambientes, uma decoração com plantas, móveis e objetos que lembram as casas dos avós, as vendas da rua.
Na loja colaborativa, Fred dá visibilidade aos artistas, oferecendo divulgação e logística de venda. No Empório, tanto quanto os insumos da cozinha da cafeteria/bistrô, ele aproxima clientes e pequenos produtores.
Entramos, escolhemos o café - um Catuaí Vermelho, com sensorial de capim limão, chá de flores brancas, lavanda e rosas, produzido em Bueno Brandão (MG), por Otavio Anesio de Castro, e os bolinhos. Elegemos sentarmos na biblioteca e respirar aquele ambiente intelectualizado. Fred estava lá e o café cumpriu seu papel agregador nos aproximando. Sentou-se conosco e nem vimos a noite chegar. Nada como encontrar um amigo perdido no universo da Vila Olímpia, cujas forças conspiraram para entrarmos no D.O.A e o encontro acontecer.
Assim como há quase 40 anos, as mesmas forças do universo dessa mesma Vila me levaram ao antigo Ludovico II para que eu encontrasse alguém muito especial que anos depois viria a ser meu marido, parceiro para todas as xícaras de café.
É isso! Fica uma dica de um ‘lugar de café’ cheio de propósito para ser explorado. Fica a dica para voltarem aos lugares da infância e da mocidade para observar as transformações, reviver boas histórias e, quem sabe, descobrir outros ‘Freds’ espalhados por aí e espaços como o D.O.A. e assim valorizar o que a vida pode nos oferecer de melhor.
D.O.A.
Rua João Cachoeira, 1617
Vila Olímpia, São Paulo, SP
@doaemporiocafe
PS. Vai lá e conta que leu esta coluna!
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