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21/08/2023 às 15h23min - Atualizada em 21/08/2023 às 15h30min

Doberman

Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
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Figura meramente ilustrativa - Reprodução Google
C 
Naquele tempo estudava Jornalismo em São Paulo e tinha dois amigos mais chegados: o Herbert (hoje mora em Joinville e ainda nos falamos) e o Fernando (de quem nunca mais tive notícias).
Vez em quando, quando em vez, saíamos pela Paulicéia à caça de alguma encrenca feminina. Porém, contudo, todavia, entretanto, o Fernando era modelo fotográfico. Eu e o Herbert éramos fotos 3x4 de um currículo à procura de emprego e em razão desses pormenores ficávamos sempre com o que sobrasse na UTI (Última Tentativa do Indivíduo). Era assim: o Fernando desfilando sua beleza na passarela como destaque da escola de primeiro grupo, enquanto Herbert e eu, figurantes de um bloco de bairro.
 
Certa feita, fomos a uma festa de casamento no Morumbi. O Herbert, que sempre gostou de carros antigos, tinha um automóvel (sic) Simca Chambord e assim, chegamos ao local como “os reis da jovem guarda em uma festa de arromba”. Para melhor entendimento a quem passou dos 50, o Fernando era o Roberto Carlos, o Herbert era o Demétrius e eu, o Ed Carlos.
Nesse clima, fomos circulando pela mansão, beliscando uns salgados, tomando um whisky do bom e de olho nas meninas do mal. Ocorre que, não sei se já falei sobre isso, Fernando atraía a atenção das garotas e não demorou muito para ele se engraçar com uma jovem donzela ou versa e vice. Pra variar, eu e o Herbert ficamos a ver navios, ou melhor, em botes salva-vidas.
O tempo passou e já era umas 4 da matina e eu naquela “festa estranha, com gente esquisita, não aguento mais birita, eu não tô legal”, o Fernando chega perto e diz:
- A garota está me convidando para ir para casa dela tomar café.  Mas só vou, se vocês forem comigo!
Tomar café? Quase estatelamos no chão de tanto rir.
- Só vamos se tiver pão de queijo e Toddy! – justificamos. 
“Amanhã de manhã, vou pedir um café para nós três...” – cantarolamos.
 
Papo vai, papo vem, lá fomos nós para a casa da garota que morava em mansão próxima. Nós, no Simca Chambord e a garota em outro carrão que, por já estar meio chapado, não lembro a marca, nem o modelo, nem a chapa. O Fernando com cara de Morumbi e eu e o Herbert com cara de Vila Carrão, bairro da zona leste de São Paulo, sem preconceitos.
 
Ao chegar no quarteirão que a garota morava, o Fernando seguia na frente e nós com cara de fritas (sempre acompanhamos, nunca o prato principal) íamos atrás segurando velas. Fomos passando por várias salas (de estar, permanecer, ficar, parecer...) e chegamos a uma cozinha pequena onde havia um corredor que dava para os fundos da casa. A garota convidou a gente para ir conhecer a piscina, o canil, e os outros cômodos do palácio, mas eu e o Herbert decidimos ficar para dar mais liberdade ao Rei Fernando I. 
Sentados em uma mesa pequena, fiquei em frente ao Herbert, naquele papo de qualquer coisa serve. Eis que, senão quando, minutos depois, ouvimos o Fernando gritar, apavorado, lá do fundo.
- O doberman fugiu!!!
Por alguns segundos ficamos eu e Herbert paralisados. O que fazer? Herbert então, mais rápido que eu, saiu da cozinha e puxou a porta, ficando a olhar pela fresta.
Sem saber o que fazer, subi em cima da mesa a esperar pelo doberman. Mas, achei que não seria a altura suficiente e daí, em uma atitude de quem se sabia em uma fria, subi em cima da geladeira, que era uma Brastemp.
Daí, imagine a cena: o Herbert com a porta quase fechada, olhando pela fresta. Eu, em cima da geladeira, encostado na parede, olhando para o corredor esperando a chegada do doberman.
Em um curto momento, que demorou séculos, vejo um cachorrinho salsicha (dachshund) com cara de hot-dog entrando na cozinha e, logo atrás, a garota e o Fernando, que ao me ver em cima da geladeira, indaga, surpreso:
- Ué, Wiliam, o que você está fazendo aí?
Pensei até em dizer que quando conheço uma casa nova, eu subo em cima da geladeira para quebrar o gelo (hehe), mas tentei apenas explicar o que havia ocorrido...
O Fernando riu, o Herbert riu e até a garota de Beverly Hills.
 
 


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