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28/07/2023 às 15h02min - Atualizada em 28/07/2023 às 15h02min

Lembranças de infância

Por Odair Camillo - Jornalista
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“Trabalhei na ferraria de meu pai, e cheguei a ferrar cavalos”
 
No início da década de 1940, meus pais foram convidados a conhecer Poços de Caldas, hospedando-se na casa de um velho amigo, funcionário da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro
Morávamos em Paranapiacaba, uma vila fundada pelos ingleses, canteiro de obras do Sistema Funicular, importante para transpor a Serra do Mar, permitindo a ligação ferroviária dos trens entre São Paulo e a cidade de Santos. Foi nessa vila que nasci, no longínquo ano de 1938.
 
Durante nossa permanência em Poços, aparentemente como turistas, meus pais, talvez surpresos com suas belezas naturais e a movimentação de pessoas pelas ruas, vislumbraram a possibilidade de se mudarem da pacata vila inglesa e aqui se estabelecerem.
 
Na época, além de ferroviário da São Paulo Railway, meu pai trabalhava nas horas vagas como ferreiro numa oficina da vila. E com essa profissão, rude mas promissora, adquiriu uma ferraria que estava à venda na rua Assis Figueiredo, mudando-se dois meses depois. Com apenas 11 anos de idade, comecei a ajudá-lo na oficina. Saia da escola, e ia diretamente para lá.
Apreciava o trabalho dele em moldar o ferro em brasa, aquecido numa forja alimentada por carvão mineral e acionada por um fole. Preso por uma pinça comprida, o metal quase em fase de fusão, era trazido para a bigorna, e trabalhado com o martelo, recebendo batidas alternadas, rítmicas, dando forma à uma ferradura ou a qualquer outro objeto de ferro. Uma verdadeira orquestra sobre uma bigorna protagonizada por músicos ferreiros.
 
Com 14 anos, cheguei a “ferrar cavalos”, não só os das charretes locais, como os que vinham da zona rural trazidos pelos colonos. Um serviço até perigoso de preparar as patas do animal com um formão e fixar a ferradura, pregando-a com os cravos de metal.
E, por muitas vezes fui surpreendido pelos coices dados por esses animais, talvez inquietos por estarem amarrados, ou pela posição desconfortável na qual tinham que permanecer.
 
Tempos depois, com a construção de estradas e a popularização dos automóveis, os cavalos foram diminuindo, e tivemos que mudar de profissão. Nossa oficina da rua Marechal passou a ser o primeiro Posto de Molas Sueden (“que nunca cedem”), e de restauração de amortecedores e macacos hidráulicos de Poços de Caldas. 
 

Do livro autobiográfico, em preparação, “O menino de Paranapiacaba”

 

 

 
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