06/10/2022 às 15h06min - Atualizada em 06/10/2022 às 15h06min

A balança da vida

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A convivência com a dor emocional ou física é condição natural da existência humana, da mesma forma que livrar-se da dor, é uma prerrogativa de cada indivíduo na busca do bem-estar emocional e físico.
Imaginemos uma balança de dois pratos. Num deles, os valores emocionais como amor, alegria, tristeza, saudade, sonho. Noutro, os valores pessoais como trabalho, divertimento, gostos, vontades, profissão, personalidade. Valores emocionais e valores pessoais devem se equivaler nos seus pesos e nas suas intensidades. É o equilíbrio das sensações a regular o comportamento.
Quando um prato pesa muito mais do que o outro, algo de errado pode estar acontecendo. Uma paixão por exemplo, pode conturbar os valores fazendo com que o prato do emocional pese mais que o prato dos valores pessoais. Na verdade, não pesa. Ou pelo menos não deveria pesar. O desequilíbrio momentâneo faz com que se depreciem um pouco os valores pessoais, diminuindo seus pesos e permitindo que os valores emocionais pesem mais.
Não é necessário, a meu ver, que se busquem valores aleatoriamente para somar peso aos valores pessoais. Basta que se reconheçam, de novo, os próprios valores pessoais e eles, por si só, diminuem a influência prejudicial daquela paixão, diminuindo consequentemente seu suposto peso, de modo a equilibrar novamente os pratos da balança da vida.
Mais intenso, todavia, é o desequilíbrio causado por uma desgraça emocional. Perde-se a referência dos valores pessoais, fazendo com que seus pesos se depreciem a níveis perigosos, enquanto o prato dos valores emocionais acusa pesos desproporcionais à resistência da própria balança. O desequilíbrio é tamanho, que os valores pessoais caem na inércia de uma prostração depressiva angustiante, desoladora.
Reencontrar o peso de cada valor pessoal é uma tarefa do tempo sobre a consciência aturdida. O risco está nas rejeições da consciência, na depreciação pessoal e na valorização do emocional em relação à razão. Então, à medida que se reconhece um determinado valor pessoal, há que se rechaçar um pouco, a dramaticidade que pesa no prato emocional da balança.
Gradativamente, reconhecendo valores perdidos de um lado e aliviando pesos acumulados de outro, busca-se o realinhamento dos pratos da balança. Quando isso acontece, reencontra-se o equilíbrio. A partir daí, convive-se com as cicatrizes do coração, restabelecidos que são os valores pessoais.
Os desequilíbrios causados por estes impactos emocionais são graves e acometem milhares e milhares de pessoas todos os dias, no mundo inteiro. Talvez seja por isso que se diz “O mundo é um vale de lágrimas”.
Mas, o tempo, com suas propriedades balsâmicas, sem pressa, já que é infinito, vai enxugando as lágrimas, aliviando as dores, suavizando as mágoas e propiciando à vida os sorrisos que voltam a alegrar as feições.
Ocupam-se os pensamentos propositalmente com as atividades cotidianas, diminuindo ao máximo o espaço para as lembranças. Lembranças essas que, inevitavelmente ressurgem no repente dos pensamentos, por vezes amenas, por vezes profundas, mas que na equivalência dos valores, não desequilibram mais, apenas entristecem.
E a vida segue seu curso a escrever a sina de cada pessoa na diversidade dos acontecimentos, nos meandros de cada história...
 
Do livro VIDAS
 
 




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