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08/04/2022 às 16h47min - Atualizada em 08/04/2022 às 16h47min

Mais uma noite, sozinho!

Por Odair Camillo - Jornalista
Figura meramente ilustrativa - Reprodução Google
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Esse domingo chuvoso de outubro, passado praticamente fechado em meu apartamento, inspira-me a escrever esta crônica despretensiosa, uma vez que nada de mais interessante tenho que fazer.
Sobre a escrivaninha, duas folhas manuscritas deixadas propositadamente abertas para serem lidas, trazem uma série de recomendações de minha esposa, que se encontra viajando com o neto mais velho.
Na pauta, desde como me comportar com relação às mulheres (ela, com certeza ainda não confia em mim) até os pedidos mais comuns, como por exemplo, caminhar todas as manhãs, fazer a barba diariamente, como também algumas “ordens de serviço”, sugestões de entrevistas e reportagens para a próxima edição do jornal.
Quanto ao primeiro item, estou procurando me aguentar, mas não está fácil diante de tanto assédio e insistentes telefonemas. Os outros, estou fazendo o possível para cumpri-los. Fiz até coisas que, em outras circunstâncias jamais faria: assistir a uma missa e entrevistar o padre, sim, o padre, vejam só. Ao terminar a entrevista com o Cônego Cavour, quase saí da minha posição de agnóstico e me converti ao catolicismo. Por pouco...
 
Nestas duas semanas de viagem que também fiz, desacompanhado, conheci mais um pedacinho do Caribe dominicano. Voltei um pouco menos branco (raça pura tem esse problema) depois de alguns dias exposto ao “sol caliente de la Playa Minitas”, mas cuja pele, infelizmente, já se encontra em fase de descascamento, assim como adquiri um know how maior na arte de dançar o merengue.
Depois, estiquei a viagem e passei pela costa leste dos Estados Unidos, no famoso resort Sonesta Beach. Após quatro dias de mordomia, me atrevi a dirigir um Corsica pela famosa 95 e pela Turnpike e só retornei dias depois de Orlando pelo trem americano Amtrak, até Miami, esse mesmo trem que no dia seguinte, num atentado terrorista, desencarrilhou e feriu centenas de pessoas quando voltava para Los Angeles. Dessa eu escapei...
 
Estou agora em casa, sozinho, defronte ao computador, procurando encher a tela, meu tempo e a paciência de vocês leitores, digitando estas letrinhas sem nexo e qualquer pretensão literária.
O telefone toca. “E ela”, penso comigo. Mas, ao atender o telefone, decepciono-me. Não é. Desligo e volto.
Aproveito para botar um CD de músicas antigas e nostálgicas. Chega de Tchaikovsky, e até de Madonna. Não adianta querer me iludir. O que gosto mesmo é do Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Cauby Peixoto, Charles Aznavour, entre tantos. Pra que negar?
O telefone toca novamente. Olho no relógio. Já passa da meia-noite. “Agora deve ser ela”“Alô, querido, sou eu? Como está?” E o diálogo comum entre marido e mulher prossegue, até que ela conclui: “Tem uma coisa, meu bem, perdemos o voo que sairia hoje. Vamos ter que ficar mais um dia”.
Não querendo dar o braço a torcer e, como que não me importando, respondo: “Não tem importância. Assim você vai ter mais um dia de descanso. Aproveite!”
Mas no fundo, no fundo, me lastimando por ter que dormir, mais uma noite, sozinho!
 
Dezembro 1995 - Do livro em preparação “Eu pecador me confesso... inocente”

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