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02/03/2022 às 14h27min - Atualizada em 02/03/2022 às 14h27min

Os meus Deuses têm corpo e alma

Por Odair Camillo - Jornalista
Lurdinha e Odair Camillo - Foto Marcelo Tercetti
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Reconheço ser um católico negligente, desconfiado, que não frequenta missas, que não se importa com sermões e frases proferidas há milhares de anos por líderes religiosos com a finalidade de pregar conceitos, regras e princípios para a ação moral, no entanto ainda sigo alguns princípios católicos herdados de minha família. Acredito que a crença em um ser superior possa gerar paz de espírito, como também pode trazer o medo. E este, está muito ligado à religião, quando deveria prevalecer o amor e a caridade.
 
Fui criado, batizado, não me recordo de ter sido crismado. Mas fui casado numa igreja católica, celebrado por um padre considerado famoso, temido, e ao mesmo tempo venerado. Tive a felicidade de ter casado meus filhos por um Homem que sempre admirei pelo seu trabalho constante na formação de jovens que mais tarde seriam exemplos para a nossa comunidade. Esse Homem foi o Padre Carlos, das Escolas Dom Bosco.
 
Participei a seu lado por quase três décadas, como professor na sua escola profissional. E nela, observei que o verdadeiro cristão estava com ele, incentivando-me e mostrando-me o caminho certo a ser seguido. Em todos esses anos, do seu constante e primoroso trabalho, ele formou Homens que hoje engrandecem a nossa cidade. Ele foi o paradigma da formação de minha personalidade. Monsenhor Carlos Henrique Neto incorporou o Deus ideal, de carne e osso, que passei a acreditar, e mais tarde tentar imitar. Acredito que, apesar de minhas limitações, tenha sido um bom aluno.
 
Agora, na minha compreensão de que, onde há um Deus, deve haver também uma Deusa, acredito que esta foi, e certamente sempre será para mim, a minha saudosa esposa Lurdinha. Não pretendo cultuar a sua belíssima biografia. Só para mim interessa o que ela representou em minha vida. Acredito que todos que a conheceram, perceberam nela, a capacidade de agregar a seu redor os incontáveis amigos.
 
E foi com ela, sempre a seu lado na sua irreversível doença, que tive que desfazer-me de alguns princípios cristãos que por muitos anos nortearam a minha vida. Há décadas que vinha relutando. Fiquei frustrado com meus pedidos de clemência, de salvação, de menos sofrimento, para amenizar a dor que Lurdinha devia estar sentindo, sem que merecesse.
Supliquei em minhas orações, um pouco mais de tempo para que ela permanecesse entre nós. E não fui ouvido. Amigos médicos e enfermeiros debruçaram sobre seu corpo ferido internamente, inerte, tentando fazer o melhor que sabiam para curá-la. A ciência, tida como avançada, obedecendo seus protocolos mundiais, também fracassou.
 
Há quem acredite, e me incluo entre eles, que, instituições sérias teriam a cura do câncer e a não disponibilizaram até hoje para continuarem lucrando com a venda de medicamentos ineficazes.
 
Mesmo apelando pela minha tênue fé num ser superior, este mostrou-se incapaz de atender as minhas súplicas. Serei certamente contestado por este desabafo, mas é realmente o que penso desse triste episódio que vivi diante o sofrimento de minha Deusa.
 
Lurdinha, essa pessoa maravilhosa, bonita, sincera, inteligente e charmosa com quem convivi por mais de 60 anos, foi precocemente levada para o outro mundo pelos seus adorados anjos, sem que, nos seus últimos momentos, eu ao menos tivesse tempo e a oportunidade de dizer-lhe “Vá minha Deusa, que logo estarei com você!”
                 
(28 de fevereiro de 2022, data em que ela estaria fazendo 80 anos)
 

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