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04/02/2022 às 16h00min - Atualizada em 04/02/2022 às 16h00min

O fascinante mundo da roleta

FONTE: Brand-News - FOTO: Brand-News
Salão Nobre do Palace Casino, prédio suntuoso construído na década de 30. Neste período, as roletas dos jogos iam a todo vapor e Poços, que reunia outros cassinos, e era considerada a “Las Vegas Brasileira”
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Memórias da época dos cassinos em Poços de Caldas (2)
 
Uma questão polêmica que movimentou a opinião pública brasileira foi a reabertura ou não dos cassinos, principalmente nas estâncias hidrominerais. Na época, acompanhei com interesse os debates. Um deles ficou em minha memória quando, pela televisão, a Ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello defendia a sua reabertura. E seu parecer favorável foi dado em resposta a uma consulta ao presidente Collor.
Segundo ela, para se levar a ideia avante não seria sequer necessário a elaboração de um projeto de lei, pois já existiam no Congresso dois, sobre o assunto. Bem. Todo mundo sabe que, mais adiante, o processo de impeachment do presidente impediu que esse assunto fosse levado adiante.
 
Coincidentemente, quando estou redigindo esta crônica, assisto pela TV a possibilidade da volta dos cassinos, embora estes já proliferem, clandestinamente, por inúmeras cidades.
Na edição de 12 de maio de 1991, o Brand-News, ao invés de debater esse assunto, colocou a seus leitores alguns fatos ocorridos entre aqueles que participavam ativamente nos cassinos, deixando para estes também julgarem se a reabertura dos jogos em Poços de Caldas seria benéfica para todos. E foi pesquisando em nossos arquivos e em recortes de jornais e revistas da época, que descobrimos algumas pessoas que tiveram uma ligação com o cassino, bem como suas atividades profissionais relacionadas.
 

Entre eles, o BRAGUINHA, José da Silva Braga, era croupier do Palace Cassino. Durante oito anos, viu a bola girar na roleta. Gostava do número 29. Era o número da sorte. O gerente e o banqueiro ficavam satisfeitos porque “era um jogo limpo”. Roleta já viciada era inutilizada.
Quando o jogo foi fechado, Braguinha não quis deixar a cidade. Era o homem de braço de ouro. Acabou num botequim, como modesto garçom. Nas horas vagas, experimentava os dedos no carteado, para não perder a habilidade. “Tenho esperança que a qualquer hora o jogo seja liberado. Poços de Caldas voltará novamente a viver seus grandes dias”, disse. Toda a cidade parou no dia em que Libertad Lamarque deu a “maior batida” no jogo: 32 mil cruzeiros. Quanto valeria isso hoje? Perguntou àquele que foi um dos maiores croupiers do Brasil.
 
ACÁCIO ROCHA DE OLIVEIRA - pai de nosso amigo Cassinho da Rocha - era pintor e também pintava as paredes do Palace Cassino. Conta o maître Luis Canhedo, funcionário da famosa casa, que quando Acácio chegava ao cassino, o banqueiro punha as mãos na cabeça e exclamava: “De jeito nenhum”. O homem ganhava sempre.
Certa noite, começou a ganhar. Ganhava, ganhava sempre! Quando o dia amanheceu, o jogo continuava. Ele não dava o menor sinal de cansaço. O jogo prosseguiu durante toda a tarde. A sorte aumentava cada vez mais. E o croupier, mangas arregaçadas, tinha sido trocado. Quando novamente chegou a madrugada, Acácio, olhos insones de tanto sedativo, parou um pouco para respirar e beber café. Estava no firme propósito de “quebrar a banca”. Quando voltou à mesa, sua sorte começou a declinar. Ao amanhecer, não lhe restava uma ficha sequer no pano. Tinha perdido tudo.

 
Meu sogro também trabalhou em cassinos
 
PEDRO DE MELLO VASCONCELLOS também foi atraído pelos cassinos. Morava com a família em Passos, no sul de Minas, e sem muitas perspectivas de um bom emprego resolveu trabalhar nos cassinos. Veio direto para Águas da Prata, onde havia um, mas logo transferiu-se para Poços de Caldas.
A princípio foi distribuidor de fichas e logo depois passou a "croupier". Por várias vezes arriscou jogar alguns "cruzeiros" que sobravam ou algumas fichas que ganhava de jogadores com mais sorte. Mas nada ganhou para viver uma vida melhor....
Depois do fechamento dos cassinos, em 1946, muito religioso, foi ser sacristão. Por volta de 1958, quando tive o grande prazer em conhecê-lo, e a sua família, já trabalhava no SOS - Serviço de Obras Sociais, gerenciando com sua esposa, Maria da Penha Porto Vasconcellos, os trabalhos daquela importante obra filantrópica fundada por Dona Elza Monteiro Ferreira.
 
Em 1962 eu me casaria com sua filha, Lurdinha, a caçula dos seus oito filhos. De meu casamento, tive com ela quatro filhos, oito netos e dois bisnetos. Ela, infelizmente nos deixou, “para um mundo melhor”, há pouco mais de nove meses.
Mas voltando ao Sr. Pedro de Melo Vasconcellos, enquanto puxava as fichas com o rodinho especial na mesa verde dos cassinos, mentalmente ia também jogando. Seu número favorito era o preto 36. E pelo que me consta, nunca ganhou o bastante para ter uma vida de ostentação. Com o fechamento dos cassinos numa cidade onde a grande paixão era o jogo, ele dizia: “Foi um decreto acertadíssimo do presidente Dutra!”
 
GABRIEL PERRI - Este era coletador e especializado na víspora. Os números tinham para ele um significado especial: 22, dois patinhos na lagoa; 01, general bengala; 44, pé do Juca; 77, dois machados num pau só. Perri também viu em 1945 Libertad Lamarque, quando deu a “grande batida”, viu de perto Gloria Warren, Pedro Vargas e outros artistas da época, inclusive Ziebinski, que vestia e ensaiava as "girls" para os grandes shows em que se gastavam fortunas. Eram assistidos pela grã-finagem de São Paulo e do Rio de Janeiro.
 
O FECHAMENTO DOS CASSINOS - Mas foi na noite de 30 de abril de 1946 que chegou a ordem: “Fechar tudo!” Eram exatamente duas horas da madrugada. A casa estava mais cheia do que nunca. De repente veio a ordem: parar a roleta. Os croupiers, os pontos, ficaram boquiabertos. Ninguém quis acreditar!
No dia seguinte, os funcionários do Palace Cassino voltaram como se nada tivesse acontecido. Mas as portas estavam fechadas. E não se ouviu, nunca mais, a voz do croupier dizendo: “Façam seu jogo, senhores. No “ponto” e na “banca”!”
 
Maio 1991

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