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Pão de torresmo à beira do fogão a lenha

Por Odair Camillo - Jornalista
29/05/2025 16h28 - Atualizado há 2 dias
Pão de torresmo à beira do fogão a lenha
Foto meramente ilustrativa - Imagem gerada por IA

 

Se você nasceu após as décadas de 1940 e 1960, pode até pular este texto. Talvez não consiga captar seu verdadeiro sabor. E não falo apenas do paladar, mas daquele gosto que fica na lembrança, como um cheiro de infância guardado no tempo.

Nasci em 1938. Como dizia meu amigo Ziney Lopes Ribeiro, “foi o ano em que a Seleção Brasileira de Futebol perdia pela terceira vez a Taça Jules Rimet lá na França”.

Minha família mudou-se para Poços de Caldas em 1943. Vivíamos em uma casa modesta na Rua Piauí, onde havia um fogão a lenha. Foi ali que mamãe Lucinda começou a se revelar uma cozinheira de mão cheia.

No inverno - que naquela época era realmente rigoroso -, a água da torneira chegava a congelar. O encanamento do chuveiro também. Só voltava a correr quando o sol despontava, por volta das nove da manhã. Era junto ao fogão que todos nos reuníamos: sentados à sua beirada ou agachados sobre sua taipa quente, buscando o calor que nos salvava do frio cortante.

Era nesse cenário que mamãe preparava seu famoso pão de torresmo. Uma iguaria feita com pele e gordura de porco, trazidos em uma lata pelo Seu Alberto, direto do sítio na Serra do Selado. Ele trazia também toucinho, banha, chouriço e linguiça. Tudo fresco, tudo farto.

Seu Alberto tinha uma parceria com meu pai Pierino, ferreiro de ofício. Juntos, criavam porcos, e de tempos em tempos ele aparecia com nossa parte: uma lata de vinte quilos. Como não havia geladeira, conservávamos tudo ali mesmo, na banha. E durava por semanas.

Hoje, quem nunca provou um pão de torresmo assado no forno de lenha pode achar tudo isso apenas uma nostalgia. Mas quem viveu, sabe: não era só o pão. Era o calor que reunia a família.
Boas lembranças!


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