Em uma agradável tarde de outono, participantes do Projeto Turismo Educativo 60+, em parceria com a Unabem, realizaram uma caminhada pelo centro de Poços de Caldas, explorando um pequeno trecho repleto de história. A visita guiada revelou curiosidades e fatos marcantes de quatro importantes patrimônios da cidade: a Igreja Santo Antônio, o Gibimba, a casa de Marçal Santos e o Hotel D’Oeste.
Igreja Santo Antônio: o alicerce religioso da cidade
O passeio teve início na Rua São Paulo (antiga Itororó), onde se ergue a mais antiga construção religiosa e patrimônio de Poços de Caldas. Originalmente consagrada em 1883 como Bom Senhor Jesus da Cana Verde, a pequena capela só recebeu a imagem de Santo Antônio alguns anos depois. Em 1886, recebeu a ilustríssima visita do Imperador D. Pedro II e comitiva, quando da inauguração da estrada de ferro em Poços. Entre 1913 e 1922, permaneceu fechada, enquanto se erguia a matriz de Nossa Senhora da Saúde; só então retomou suas atividades sob o atual nome.
“É impressionante pensar que, antes de 1880, a cidade não tinha sequer um templo. A determinação daqueles primeiros devotos, apesar de uma discórdia inicial sobre o melhor local para a igreja, moldou o coração espiritual de Poços”, comentou o historiador Roberto Tereziano, que guiou o grupo.
Gibimba: do antigo colégio ao mais famoso cabaré do Brasil
Em seguida, a turma atravessou a rua até o prédio do antigo Colégio dos Mourão. Por volta de 1900, o imóvel foi transformado por Biaggio Varalo no Cabaré Gibimba, que logo se tornou referência nacional em entretenimento noturno. O nome, fruto de um mal-entendido, no dia da inauguração, com o italiano “Oggi Bimba” (“Hoje Bimba”), acabou batizando o estabelecimento. Ao longo do tempo, o local também abrigou o Cassino Caldense, o Cine Teatro Radium, boliche, boates e até um bar batizado de Maracanã, em 1950.
Casa de Marçal Santos: herança familiar de Santos-Dumont em Poços de Caldas
Na esquina da Rua São Paulo com a praça Dr. Pedro Sanches, ergue-se a residência que pertenceu a Marçal José dos Santos - tio-avô de Alberto Santos-Dumont, pai da aviação e frequentador ilustre de Poços - e, anteriormente, ao Barão de Ibitinga, doador do terreno da primeira igreja de Bom Jesus da Cana Verde. Entre 1900 e 1905, Marçal presidiu interinamente o Conselho Deliberativo da cidade. No andar superior, funcionou o Serviço de Alto Falante Urânio; no térreo, a Cinelândia.
Hotel D’Oeste: hospedagem centenária em Poços
O encerramento ocorreu no Hotel D’Oeste, ativo desde o início do século XX. Inaugurado originalmente como Hotel Bela Vista, o sobrado foi adquirido e ampliado por Joaquim Pereira, açougueiro e um dos primeiros moradores locais. Com o passar dos anos e a sucessão de famílias proprietárias, o nome D’Oeste consolidou-se - uma placa encontrada durante recente reforma inspirou o atual dono, Antônio Gabriel Vaz Neto, a restaurar a denominação histórica. Fechando o passeio em grande estilo, o Sr. Antônio carinhosamente recepcionou o grupo no hotel com um delicioso café da tarde.
Ao final, os participantes reconheceram que esses quatro pontos, concentrados a poucos metros entre si, formam um núcleo rico em memórias e histórias que muitos poços-caldenses e visitantes desconhecem. A experiência reforça a importância de ações educativas que valorizem o patrimônio cultural e arquitetônico da cidade.
O Projeto Turismo Educativo 60+, idealizado pelo Professor Flávio José Valente, é uma iniciativa voluntária que busca promover o senso de pertencimento e valorização da cidade por meio de um "turismo local e cidadão", explorando o patrimônio histórico de Poços de Caldas. A Unabem, coordenada pela Professora Adriana Gavião, também voltada para pessoas acima de 60 anos, visa elevar a autoestima, estimular a sociabilidade e desenvolver capacidades cognitivas. Juntos, os dois projetos oferecem aulas e visitas guiadas, todas as quartas-feiras à tarde. As atividades são gratuitas e abertas à comunidade. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (35) 9 8874-5236.
