Neste ano, a Charanga dos Artistas, evento tradicional do Carnaval de Poços de Caldas, comemora um marco importante: sua 25ª edição em 24 anos de existência. Este é um momento especial para celebrar a evolução cultural da cidade e refletir sobre as transformações ocorridas desde o início do novo milênio. Clistenis Betti, um dos artistas fundadores do evento, relembra como tudo aconteceu.
Era o ano de 2001, Poços de Caldas estava em plena metamorfose cultural. Foi um período de intensas discussões, seminários e avanços que moldaram o cenário artístico local. Antes disso, a cidade oferecia poucos eventos artísticos gratuitos à comunidade. Os grupos de teatro e música estavam começando a se unir e promover debates, preparando o terreno para um futuro vibrante. Nesse contexto, Poços de Caldas contava com apenas sete grupos de teatro amador e poucos grupos de dança. No entanto, a cidade sempre foi um berço de grandes músicos e bandas que já estavam em atividade há décadas, contribuindo para a rica trajetória cultural da região. Um nome que se destaca nessa jornada é o da saudosa Nicinha, que dedicou sua vida à formação de inúmeros atores e atrizes. Seu grupo teatral, Alvorada, o mais antigo da cidade, estava prestes a completar meio século de história. O legado de Nicinha continua vivo, inspirando novas gerações de artistas.
O Carnaval daquele ano prometia ser inesquecível para os moradores e visitantes de Poços de Caldas. Sete grupos de teatro, atores e atrizes, formados majoritariamente por alunos da Nicinha, se reuniram com o diretor de cultura da época, Anésio Avelar, para criar algo novo e experimental para a folia. Anésio trouxe a ideia dos bonecos gigantes, inspirados nas tradicionais festas de Olinda (PE), enquanto os atores sugeriram uma forma inovadora de interagir com o público. A união dessas ideias resultou na decisão de que precisariam de uma banda, no estilo das charangas, para animar ainda mais a festa. As charangas, conhecidas por suas apresentações vibrantes em estádios de futebol, onde torcedores munidos de instrumentos de sopro e percussão animam as partidas, foram a inspiração perfeita. Com o nome "Charanga dos Artistas", a banda formada especialmente para o Carnaval de 2001 abrangeria todos os artistas locais e prometia trazer um toque especial à festa. Para animar o desfile com músicas vibrantes, Miguel Brito foi responsável por selecionar os primeiros músicos que compuseram a banda.
INOVAÇÃO E ARTE - “Queríamos algo que fosse a cara de Poços de Caldas, algo que envolvesse nossos artistas e fosse divertido para todos", disse Betti. A expectativa é que a "Charanga dos Artistas" se tornasse uma tradição anual, marcando o Carnaval local por muitos anos. A reunião para definir os detalhes aconteceu algumas semanas antes da festa, e contou com a presença de diversos grupos artísticos da cidade. Entre os presentes estavam membros da Cia Bella de Artes, como Giovani Porchia e Roberta Dias; do Grupo Magia, com Deborah Soares e Silmara Almeida; da Oficina de Teatro, com Fábio Cagnani, Juliana Almeida e Ed Alexandre; além dos Monteiros e Lobatos, representados por Clisthenis Betti, Dema Mello, Marcelo Betti e Rosangela Fernandes, com a participação de Leandro Campos e Viviane de Figueiredo. Também marcaram presença o Grupo Trancos e Barrancos, com Luiz Munhoz e Adriano Franco; Máscaras Vivas, com Elisangela Virga e Marta Lapidusas; e o Grupo Força Livre, com Adriana Rossi, Juliano Rossi e Luciana Rossi.
Cada grupo ficou responsável por confeccionar seu próprio boneco, inspirado nos gigantes de Olinda. No desfile, os bonecos ganharam vida e encantaram o público. Entre as figuras destacaram-se Dionísio, o Deus do teatro; Rei Momo, o Rei do Carnaval; Mister Jones, o Fantasma da Urca; Pedro Botelho, o diabólico ser que dá nome a um dos mitos fundadores da cidade; O Expresso da Mogiana e Dom Pedro II; TKR, figura folclórica de Poços de Caldas; e Walter Miguel, saudoso empresário local.
A combinação de bonecos gigantes e charanga trouxe um toque especial e único ao Carnaval, deixando uma marca profunda na memória de todos os participantes e espectadores. Assim, Poços de Caldas ganhou uma nova tradição carnavalesca, unindo artistas e a comunidade em uma celebração de criatividade e alegria.
FOLIA DEMOCRÁTICA - O Carnaval de Poços de Caldas nunca mais foi o mesmo desde a criação da "Charanga dos Artistas", em 2001. O projeto, que começou de forma modesta no Sábado de Carnaval daquele ano, surgiu nas proximidades do Palace Casino e também no Coreto da Praça Pedro Sanches, com a intenção de ser mais do que apenas um atrativo para as famílias da cidade e turistas. A "Charanga dos Artistas" tinha como objetivo principal incluir todas as pessoas na folia, em uma época marcada pela explosão das micaretas, desfiles de escolas de samba e bandas que se apresentavam em diversos pontos da cidade. Diferente dos bailes pagos, que aconteciam à noite ou em matinês, a charanga veio para reunir de forma democrática, desde bebês, crianças, jovens, pais e avós em um só evento.
Na época, o axé dominava as festas carnavalescas, o funk estava dando seus primeiros passos e participando da festa de Momo, além do samba, é claro. No entanto, faltava algo que realmente unisse todas as famílias. Foi então que a Charanga trouxe de volta as tradicionais marchinhas de Carnaval, um dos principais objetivos do projeto. E como dizem, “o que é pra ser, tem força”.
Se pelos poderes de Dionísio ou pela magia da Festa de Momo, a "Charanga dos Artistas", em seu ano de estreia, foi considerada o melhor evento de Carnaval, um verdadeiro sucesso estampado em diversas matérias de jornais da época. Ao longo do tempo, a Charanga se consolidou e foi agregando mais grupos de teatro, dança e circo que surgiam na cidade. Muitos artistas começaram com a Charanga, fizeram parte da história e hoje seguem por outros caminhos na arte, dando oportunidade para grupos novos. Atualmente, o elenco conta com diversos grupos artísticos, incluindo a Cia. Balafuda, Betti Bruschi Produções Artísticas e Culturais Monteiros e Lobatos, CachorroLoco Produções, Companhia Cênica de Teatro, Companhia De Parolis de Teatro, Companhia de Teatro Montéchios e Capuletos, Companhia Naativa de Teatro, Companhia Tema de Artes Cênicas, Dell’Arte Produções Artísticas, A Família Bicho, Grupo Arte Expressão, Grupo Magia de Teatro, LeBru Produções Artísticas, The Power Music, Studio de Dança Kika de Souza e Lucia Reis, Studio Garage, Trupe de Ruah e o Grupo dos Bonequeiros, que dão vida aos bonecos da Charanga.
“Ao longo dos anos, a Charanga tornou-se um símbolo dessa evolução cultural. Hoje, ao celebrarmos sua 25ª edição, reconhecemos a importância de iniciativas culturais que promovem a inclusão, o acesso à arte e a valorização dos talentos locais. É um momento para refletir sobre o passado, celebrar o presente e olhar com esperança para o futuro da cultura em Poços de Caldas”, disse Clistenis Betti.
SERVIÇO:
De sábado a terça-feira de Carnaval (de 1 a 4 de março), no Parque José Affonso Junqueira, atrás do Palace Hotel, das 16h às 19h, os foliões de todas as idades vão poder se divertir, dançar e interagir com os bonecões, grupos de teatro e dança e muita música, com a Banda do Miguelzinho.
Antes, na sexta-feira (28), a Charanga anima a entrega da chave da cidade ao Rei Momo, nas escadarias da antiga Prefeitura, às 18h, seguida por Cortejo até o Parque José Affonso Junqueira, abrindo oficialmente a folia.