Estudos apontam que Alzheimer pode estar associado à obesidade e saúde intestinal

19/02/2025 15h59 - Atualizado há 1 dia

 

Pesquisas relacionam o desenvolvimento da demência com fatores evitáveis, como obesidade e equilíbrio da flora intestinal

Os problemas ligados aos sistemas digestivo e endócrino podem afetar o sistema nervoso central (SNC) e desencadear doenças neurodegenerativas. Essa foi a conclusão de uma pesquisa realizada pela Escola de Medicina da Universidade de Washington, apresentada recentemente na reunião da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA). Os dados constataram que a gordura visceral - que envolve órgãos abdominais - está associada ao desenvolvimento do Alzheimer até duas décadas antes do surgimento dos primeiros sintomas.

Os pesquisadores descobriram que a obesidade estava relacionada com o aumento das proteínas beta-amiloide e tau, marcadores do Alzheimer. Para tanto, foram analisados 80 pacientes cognitivamente normais, com idade média de 50 anos. Aproximadamente 57,5% eram obesos, e o índice de massa corporal (IMC) médio era de 32,31.

“O acúmulo de gordura corporal leva a uma inflamação sistêmica grave por conta da resistência à ação da insulina - hormônio que regula o nível de açúcar - e do aumento do colesterol e dos triglicerídeos no sangue. Essa combinação de fatores, que chamamos de síndrome metabólica, afeta negativamente o organismo como um todo”, explica o Dr. Fernando de Barros, cirurgião bariátrico e gerente médico do Programa de Cirurgia Robótica e Bariátrica dos hospitais São Lucas Copacabana e Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), da Dasa.

De acordo com o Relatório Nacional sobre a Demência, lançando ano passado pelo Ministério da Saúde, cerca de 8,5% da população com 60 anos ou mais convive com a doença, o que representa um número aproximado de 2,71 milhões de casos. Até 2050, a projeção é que 5,6 milhões de brasileiros sejam diagnosticados com demência. Contudo, cerca de 45% dos casos poderiam ser prevenidos ou retardados, segundo o documento.  

Para o neurologista e pesquisador Marcus Tulius, do CHN, entender a influência do acúmulo de gordura nos danos às células cerebrais na população de meia-idade abre caminhos para atuação precoce: “O estágio inicial do Alzheimer se manifesta por volta dos 50 anos. Este período é quando ações preventivas podem ajudar a retardar a evolução da doença, como redução de peso e de gordura visceral para melhorar o fluxo sanguíneo cerebral.”

 

Desequilíbrio entre bactérias boas e ruins do intestino pode influenciar a saúde neurológica
Muitas pessoas dizem que o intestino é o nosso segundo cérebro e essa afirmação não é um exagero. Um estudo publicado na revista científica americana Cell aponta que o desequilíbrio na microbiota intestinal pode afetar diretamente o bom funcionamento do cérebro e, até mesmo, o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.

“O nosso sistema nervoso central tem uma relação complexa e muito próxima com o microbioma intestinal, sendo a microbiota capaz de regular os neurotransmissores por meio da sua barreira hematoencefálica (BHE), que impede a passagem de muitas substâncias, incluindo a maioria das bactérias, do sangue para o tecido cerebral. O desequilíbrio entre as bactérias ´boas´ e ´ruins´ que vivem no intestino pode impactar significativamente no funcionamento cerebral, como mudanças na aprendizagem, na memória e na sociabilidade, assim como aumento das chances de desenvolvimento de demências e outras condições neuropsiquiátricas, como depressão, ansiedade e transtornos do espectro autista”, explica o dr. Marcus Tulius.

Na prática, um intestino muito povoado por bactérias ruins tem a sua barreira exposta, ficando vulnerável à infiltração dela nessa camada, o que compromete a proteção do sistema nervoso central (SNC), como detalha a médico.

Algumas formas de tratamento, como o uso de probióticos e o transplante de microbiota intestinal, podem ser boas estratégias não apenas para melhorar a saúde do intestino, mas também para beneficiar a saúde mental e cognitiva em alguns casos de distúrbios neurológicos.


FONTE: FONTE: Bowler - Brienny Giarola - [email protected] - FOTO: Reprodução Google
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