Estudantes gaúchos adaptam histórias infantis e alertam para as consequências da ação humana e da mudança de temperatura
A Pequena Sereia no Mar Poluído. Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Consciente. João e Maria: Guardiões da Floresta. Os Três Porquinhos e o Tornado. Saci Pererê e a Perna de Lixo. Os novos títulos para as fábulas literárias infantis foram inspirados na tragédia climática vivida pelo Rio Grande do Sul em maio de 2024 e são resultado de um trabalho desenvolvido por estudantes do Ensino Médio do Colégio Marista São Luís, de Santa Cruz do Sul (RS).
A proposta surgiu na disciplina de Língua Portuguesa e Estudos Literários, em turmas do 3º Ano, com o objetivo estimular a reflexão dos alunos sobre a realidade dos gaúchos naquele momento. “A ideia inicial era trabalhar com o tema inclusão, porém, frente à calamidade que as fortes chuvas causaram ao nosso Estado, reformulei a proposta, a fim de abordar o meio ambiente e os impactos da enchente. A composição de repertório voltado para vestibulares e Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), e propor uma reflexão a partir dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável também foram levados em conta”, ressalta a professora do Colégio Marista São Luís, Simone de Oliveira Etchichury.
Ao todo, foram 17 histórias infantis adaptadas. Os estudantes, com idades entre 17 e 18 anos, reescreveram as narrativas e elaboraram as ilustrações. Depois, as fábulas foram impressas e compartilhadas com crianças do 1º Ano do Ensino Fundamental do colégio. A interação entre “grandes e pequenos” foi comemorada pela professora Elisa Kappel, responsável pela alfabetização dos Anos Iniciais e educadora Marista há 38 anos.
“Esse projeto me deixou duplamente feliz, pois a maioria dos estudantes do 3º Ano foi meu aluno, eles aprenderam a ler e a escrever comigo e agora estão escrevendo, contando histórias e encantando os pequenos, também meus alunos. É um privilégio imenso vivenciar isso enquanto professora”, relata Elisa.
O jovem João Sestari, de 18 anos, relembra a experiência: “recriar um conto já consolidado foi desafiador, principalmente pelo fato de que a nova história deveria ter aspectos sociais e ambientais e ser compreendida pelas crianças a ponto delas absorverem os valores apresentados e levarem para sua rotina”, destaca. Para ele, a reação das crianças ao ouvirem as histórias foi o momento mais marcante do processo. “Ver elas prestando atenção, questionando e se interessando pelo conto foi bem significativo. Espero que esse projeto tenha marcado positivamente os pequenos assim como me marcou e que eles levem os valores apresentados para o resto da vida”, finaliza.
Além da experiência lúdica proporcionada pela escola, com as histórias sendo contadas e encenadas sob a sombra de uma árvore, as crianças puderam levar os livros para casa, para lerem junto às famílias. Algumas fábulas estão disponíveis aqui. Todas as publicações permanecem no colégio e poderão ser consultadas ao longo do ano.
“A elaboração das histórias serviu não apenas como atividade escolar avaliativa ou ainda para construção de repertório, mas fez os estudantes refletirem sobre nossas ações junto ao planeta e os impactos no meio ambiente; os fez desenvolver empatia e pensar acerca da alteridade, já que alguns deles foram diretamente atingidos pela enchente em nosso Estado”, reflete a professora Simone de Oliveira Etchichury. Ela também chama atenção para a importância do fortalecimento do vínculo com nosso território, para a construção de um espaço solidário de valorização do outro, a possibilidade de crescimento pessoal e para a cidadania.