11/12/2024 às 15h42min - Atualizada em 11/12/2024 às 15h42min
Nova regra dos EUA facilita fuga de cérebros do Brasil
FONTE: Letícia Victória - [email protected] - FOTO: Reprodução site AG Immigration
A partir de agora, estudantes e pesquisadores que estudam em programas de intercâmbio científico na América não precisarão mais retornar ao País por pelo menos dois anos
O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou uma revisão na Exchange Visitors Skills List (Lista de Habilidades de Intercambistas), que entrou em vigor nesta segunda-feira (9). A atualização elimina a exigência de que participantes de estudantes e pesquisadores de países, como Brasil, China e Índia, retornem a seus países de origem por dois anos após o término de seus programas sob o visto J-1.
A Lista de Habilidade é um documento usado pelo governo americano para identificar quais campos de conhecimento são considerados críticos para o desenvolvimento de determinadas nações. Participantes de intercâmbio provenientes de países incluídos na lista - e que atuam nessas áreas - estão sujeitos a uma regra que os obriga a retornar ao seu país por dois anos antes de poderem solicitar outro visto ou status de permanência nos EUA.
A lista não era revisada desde 2009, e era considerada por muitos como desatualizada, já que não refletia mais as necessidades de desenvolvimento de alguns países. Com a revisão, 35 países, incluindo o Brasil, foram removidos da exigência, o que significa que os brasileiros não precisam sair dos EUA ao completarem um programa acadêmico no país.
“Isso significa que esses indivíduos poderão buscar novos vistos para permanecer nos EUA, seja para trabalho, estudos ou outras oportunidades, sem a necessidade de voltar ao país natal primeiro. Por um lado, é uma forma dos Estados Unidos contarem com essas mentes para se desenvolver. Por outro, agrava o fenômeno de fuga de cérebros”, comenta Leda Oliveira, CEO da AG Immigration.
O visto J-1 é amplamente utilizado nos Estados Unidos para programas de intercâmbio acadêmico, cultural e profissional. É frequentemente usado por pesquisadores, professores de ensino superior, pós-doutorados e alunos de graduação, mestrado e doutorado - geralmente, quando o estudante não está matriculado permanentemente em uma universidade dos EUA, mas sim participando de programas de curta duração como parte de acordos institucionais.
Impacto na retenção de talentos internacionais
A mudança colocada em prática pelos EUA é vista por especialistas como uma tentativa de reter talentos internacionais, especialmente em áreas estratégicas como tecnologia, engenharia, ciências e matemática. “Nos últimos anos, iniciativas semelhantes têm sido adotadas para competir com outros países na atração e retenção de profissionais altamente qualificados”, comenta Leda.
Segundo o Instituto para o Progresso, entre 35 e 44 mil trabalhadores com vistos J-1 em áreas consideradas essenciais são afetados pela exigência de retorno ao país de origem. Com a exclusão de países populosos e economicamente relevantes, como China, Brasil e Índia, a expectativa é que mais talentos dessas nações possam continuar contribuindo para a economia e inovação nos EUA.
A atualização reflete também diretrizes da administração Biden, que busca alinhar políticas de imigração e retenção de talentos com os objetivos estratégicos dos EUA, como o desenvolvimento seguro e confiável de tecnologias emergentes, incluindo inteligência artificial. A medida também responde à crescente demanda por mão de obra qualificada, especialmente em setores onde os EUA enfrentam competição global.
Benefícios e desafios para brasileiros
O Brasil é um dos países que mais enviam talentos para os EUA. Em 2023, por exemplo, 41.704 brasileiros estavam com matrículas ativas nas escolas, universidades e programas de intercâmbio dos Estados Unidos, fazendo do Brasil o quinto país com mais estudantes internacionais em instituições de ensino americanas, segundo dados da consultoria Viva América.
Também durante o ano letivo americano de 2023, exatos 4.468 brasileiros atuavam como pesquisadores internacionais ou professores convidados em instituições de ensino superior dos EUA. Com isso, o Brasil foi o quarto país com mais acadêmicos atuando nas universidades e faculdades estadunidenses - um crescimento de 35,7% sobre 2022 e o maior volume já registrado na história.
Os brasileiros também são uma das nacionalidades que mais migra definitivamente para os EUA. No ano passado, 28.050 cidadãos do Brasil receberam a residência permanente estadunidense - o famoso green card. É o maior volume da história e de uma alta de 16% em relação às 24.169 emissões de 2022 - o recorde anterior. O Brasil foi o 10º país que mais recebeu o benefício imigratório.
Os dados são de um levantamento do escritório da AG Immigration, feito com dados obtidos junto ao Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS). A pesquisa revelou ainda que a quantidade de brasileiros que obtiveram a cidadania americana também atingiu o segundo maior patamar da série histórica, após ter atingido recorde em 2022. Ao todo, foram 12.570 naturalizações em 2023, leve queda de 4,7% sobre as 13.203 do ano anterior. O Brasil foi o 16º país que mais teve nacionais obtendo a cidadania dos EUA.