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19/11/2024 às 14h43min - Atualizada em 19/11/2024 às 14h43min

A CONSCIÊNCIA NEGRA - A Casa Laudelina de Campos Melo celebra Palmares

FONTE E FOTO: Divulgação
Tita durante reunião da Casa Laudelina de Campos Melo, da qual é presidente
O domínio de nossos corpos negros se deu devido à subordinação dos cidadãos do mundo abaixo da linha do equador, a partir das primeiras décadas do século XV. Os territórios ocupados foram, primeiro a África pelos portugueses; no final do mesmo século e no início do século seguinte espanhóis e portugueses invadem o oeste do Atlântico, nas terras que foram chamadas de Novo Mundo. Estavam “descobertas as Américas”. O império português atingiu ainda o continente asiático. Os ingleses, franceses e holandeses chegaram depois em sua investida de posses de terras e de gentes. O domínio dos corpos em sua inteireza, atingiu ainda o domínio dos naturais, povos originários de todos esses territórios, que foram obrigados ao trabalho servil, mas só a população africana foi, em seu flagelo, transformada em animal de mercado.
 
Esse momento é considerado como a grande expansão comercial e marítima dos impérios europeus, ou expansão colonial, e que perdurou até o final do século XIX, numa nova redistribuição dos territórios do mundo, no que ficou conhecido como neocolonialismo, se instalando uma nova dimensão do domínio dos corpos, situação que só começou a encontrar termos depois da segunda guerra mundial.
 
Essa expansão comercial e marítima, com a tomada dos territórios para a exploração dos seus bens para o mercado europeu, desenvolveu o comércio externo com madeira, peles, minérios, agricultura e outros insumos. No entanto, é nesse crucial momento que corpos negros de homens e mulheres africanos (as) se tornam vítimas da ganância do ter e se veem transformados (as) em mercadoria e, escravizados, produtores de mais-valia. Esse, é o momento marcante da formação da economia capitalista e da hegemonia política dos impérios europeus, instalando o euro-centrismo e a desvalorização dos povos das terras invadidas e com sua população dominada. É nesse momento, a partir de 1415, que a Europa (ocidente) se constrói como sujeito da história, do conhecimento, da ciência, da economia, da religião, da ética e, do modelo exemplar, da supremacia branca. Sujeito soberano no mundo.
 
O povo de pele negra, com as características negroides, com a colonização, ficou colocado abaixo do que era considerado como raças superiores: a ariana e a árabe. Ainda se colocava que o negro, coletivamente, não progrediria além de determinado ponto e que, por isso, não merecia consideração, e que sua mente era como a de uma criança. Outras conotações pejorativas poderiam ser aqui acrescentadas, mas a história nos prova o contrário, pois, a mais alta e desenvolvida civilização da história antiga se construiu na África - o império egípcio.  Sem contar com os esquecidos da História, como o Reino de Gana e o Império de Mali - que criou uma das primeiras universidades do mundo, em Timbuktu, na costa oeste da África - ainda vivos na memória dos povos da região.
 
No Brasil, desde Aqualtune e Zumbi dos Palmares, em todo o percurso da construção social, política e cultural, homens e mulheres negras grandiosos (as) estiveram presentes, marcando o seu lugar na sociedade e na história.
 
A visão eurocêntrica do conhecimento no direcionamento da visão de mundo deve ser revista. Tem-se que conhecer e repensar as produções do conhecimento a partir do hemisfério sul, dos povos que habitavam o sul do equador, da América Central ou mesmo dos países asiáticos com suas sociedades e organizações políticas muito desenvolvidas e culturas estruturais nos diferentes ramos do conhecimento. Pois, pode-se acreditar que a grandeza da vida não se encontra apenas nas ciências, nas tecnologias, nas artes e religiões organizadas, ou na riqueza, sob o modelo europeu. Todos os outros povos sobreviviam em suas comunidades.
 
A consciência parte da produção do sujeito social negro (a), ou ameríndio (a), descendentes de pessoas escravizadas, hoje, no século XXI, ainda em condições precárias de vida. Que sujeito negro (a), na nossa consciência, no coletivo, almeja produzir para a inclusão ou para a transformação? Pois se sabe que nenhuma interpretação nova, que nenhum elemento novo, se adquire sem luta de direito à cidadania.
 
Temos por obrigação e direito conhecer a história dos povos que foram submetidos, suas produções de conhecimento, de religião, economia, artes e outros. Isso é necessário para que se possa pensar o novo.
 
Assim, a pesquisa para conhecer a história da África e do negro (a) no Brasil é dar significação à história do mundo e à história do Brasil. Dar visão à história das Américas é dar e ter a visão da história mundial.
 
A história não deve ser vista como história nacional ou da pátria, mas história geral, do mundo. História das gentes do mundo no seu todo. Devemos conhecer a nossa história, a nossa cultura e transformar essa cultura de sobrevivência em cultura de consciência - para a produção da resistência como alicerce da nossa cidadania.
 
As questões, aqui apontadas, construíram o flagelo do racismo, difíceis de extirpar. A destruição dos preconceitos é demorada, pois o racismo se apresenta ou é exercido de forma difusa nas pessoas e nas instituições, por isso estrutural. E, as pessoas têm dificuldade para o perceber ou até de o entender. Mas, a nossa obrigação cidadã é apontá-lo, denunciá-lo e combatê-lo, ou seja, mostrar como o racismo se situa como prática explícita na sociedade brasileira.
 
Devemos ter como objetivo a sua erradicação da sociedade e, para isso, a nossa luta não pode ser individualizada, temos que estar juntos e juntas, numa só direção, para termos nossos corpos libertados e construir um outro Brasil.
 
Por Maria José de Souza (Tita) - Presidente da Associação Casa Laudelina de Campos Melo

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