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04/12/2023 às 16h35min - Atualizada em 04/12/2023 às 16h35min

Entrevista não é bate-papo

Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
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Já se disse que “a entrevista é a essência do jornalismo”. Uma boa entrevista já causou profundas transformações na política, na economia, na vida pessoal e profissional de muita gente (entrevistadores e entrevistados) no mundo todo.
Sabe-se também que entrevistar não é somente fazer uma pergunta e esperar uma resposta. É necessário por parte do entrevistador, o “envolvimento” com o entrevistado e com os assuntos tratados, mantendo o “distanciamento” necessário para não avalizar opiniões, na consciência de que não existe jornalismo isento.
 
Por estas premissas, sinto, particularmente, certo arrepio quando vejo entrevistadores chamando entrevista de “bate-papo”. Me dá a impressão que não se exige profissionalismo para realizar uma entrevista e muito menos, preparo. Ou seja, para um bate-papo, qualquer um serve.
Claro que, a intenção, talvez seja, muitas vezes, descontrair o entrevistado e apostar na espontaneidade do diálogo para a obtenção das informações. Contudo, este gênero jornalístico (entrevista) exige muito mais que descontração. Exige conhecimento da vida e obra do entrevistado e do assunto a ser discutido. Exige intuição, delicadeza, firmeza, raciocínio rápido e estratégias, sem esquecer da razão da sua existência: o leitor, ouvinte, telespectador ou internauta.
 
Nunca é demais lembrar que o entrevistador é o condutor da entrevista e para isto precisa estar bem-informado e preparado para saber quando falar e quando ouvir, quando interromper e quando deixar a “fala correr solta”, quando contestar e quando acrescentar informações, incluindo a noção exata do seu público e do veículo que transmite a reportagem.
 
Por tudo, não se faz um bom entrevistador do dia para noite.
É necessário tempo e a presença de alguém que tenha experiência e capacitação para as críticas necessárias ao aprimoramento da função. Porque, apesar da existência de indicadores, não existem receitas prontas para uma boa entrevista e cada entrevistador, à sua maneira, desenvolve seu próprio estilo.
 
Algumas sugestões dadas por jornalistas experientes podem ser válidas, como a de começar a entrevista com atitudes ou comentários bem-humorados para deixar o interlocutor à vontade. Estudar o perfil psicológico do entrevistado para saber se deve conduzir a entrevista “batendo ou assoprando”.  Sustentar o diálogo com o entrevistado tratando-o do modo mais coloquial seja pelo nome ou cargo, conforme as circunstâncias. Gravar e anotar as palavras chaves de uma entrevista, quando esta não for realizada ao vivo. Lembrar ainda que o entrevistado tem direitos, tais como, o de dizer não a um pedido de entrevista, de não responder perguntas que julgue desconfortáveis ou inapropriadas ou mesmo de pedir para rever suas declarações antes da veiculação.
 
Enfim, tenho a consciência de que este artigo não esgota o assunto e nem irá mudar a situação. Certamente, vamos continuar lendo e ouvindo “bate-papo” como sinônimo de entrevista. Uns até irão chamar esta opinião de “preciosismo” desnecessário ou de “bate-papo furado”.
Pode ser. Como isto gera polêmicas, vou continuar este assunto com alguns amigos jornalistas no barzinho da esquina. Até porque não existe melhor lugar para um bate-papo.


 


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