01/12/2022 às 15h53min - Atualizada em 01/12/2022 às 15h53min
Médica explica como funciona o tratamento de Alzheimer com cannabis medicinal
FONTE: Seven PR - Beatriz Ornelas - [email protected]
Figura meramente ilustrativa - Reprodução Google c
Alternativas com base na planta são métodos eficazes de melhorar a qualidade de vida dos pacientes
O Alzheimer é uma doença que afeta 1,2 milhões de brasileiros. Os dados são do Ministério da Saúde, que também indicam que 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Medicamentos à base de cannabis medicinal ganham força nesse cenário, ajudando a melhorar sintomas da patologia. Entretanto, como superar os desafios do preconceito enraizado na sociedade em relação ao uso de cannabis para doenças como essa?
A médica de Família especialista em Geriatria, Letícia Mayer, explica que, por muitas vezes, os parentes também ficam fragilizados já que os tratamentos convencionais são escassos e com pouca resposta na prática. Além disso, grande parte dos pacientes possui um quadro com sintomas de difícil controle. “A maioria das famílias chega no consultório em busca de uma alternativa eficaz para ajudar a proporcionar qualidade de vida, já que é uma doença que não tem cura”, aponta.
Os canabinoides agem no sistema endocanabinoide, responsável pela sinalização celular por meio de transmissores dentro do corpo. Por exemplo, no organismo, funciona na estimulação do sistema nervoso, controla ansiedade, reduz sintomas de apatia e comportamentos repetitivos, além de auxiliar no sono e outros aspectos ligados à qualidade de vida.
Letícia explica que os medicamentos são indicados para qualquer paciente e em qualquer estágio da doença, que é um transtorno neurodegenerativo progressivo que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória. “Existem duas frentes de ação, a melhora sintomática que percebemos no dia a dia, como a ansiedade; e o efeito neuroprotetor, que diminui a neuroinflamação no cérebro, que leva à morte de neurônios”, pontua.
Além disso, considerando a falta de alternativas terapêuticas para pacientes com a doença, a cannabis pode ser uma aliada, já que possui poucos efeitos colaterais. “Com supervisão médica, muitas vezes conseguimos retirar medicamentos que causam mais riscos do que benefícios, como calmantes usados para regular o sono”, explica a geriatra.
Para ela, os maiores desafios são o difícil acesso a esse tipo de medicamento e a falta de profissionais com experiência para trabalhar com o insumo. “Hoje, apesar de existir menos burocracia para conseguir os medicamentos, muitos desistem do tratamento por serem produtos com custo ainda elevado para algumas pessoas, principalmente considerando seu uso contínuo em doenças de origem neurodegenerativa, como o Alzheimer."
Entretanto, apesar das dificuldades, o cenário é positivo, considerando que a quantidade de médicos prescritores de cannabis vêm crescendo ano a ano, consideravelmente. “É um mercado relativamente novo e com grande potencial de crescimento. Por isso, para atender a demanda, observamos mais médicos se especializando no tema para suprir a necessidade desses pacientes”, explica.
Uma pesquisa recente da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) mostrou que o óleo de cannabis, usado na proporção adequada para cada caso, foi capaz de reduzir os impactos gerados pelo Alzheimer e até reverter boa parte dos danos relacionados à memória.
De acordo com Fabrízio Postiglione, CEO da Remederi, farmacêutica brasileira de cannabis medicinal, a informação é fundamental para garantir acesso à qualidade de vida para pacientes com diversas patologias. “É um processo de educação social para todos os âmbitos que pode contribuir para mudanças concretas na legislação, favorecendo a produção e comercialização dos medicamentos de maneira acessível”, aponta.