FONTE: Assessoria de Comunicação da Escola de Enfermagem da UFMG – FOTO: ...
A alta prevalência de tabagismo e a introdução de novos produtos do tabaco entre adolescentes tornaram-se um cenário preocupante, um problema global, visto que o produto é altamente viciante e traz consequências para a saúde. Estudo realizado por pesquisadores da UFMG, Ministério da Saúde e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou elevadas prevalências de experimentação de narguilé, cigarro eletrônico e outros produtos do tabaco entre adolescentes escolares de 13 a 17 anos de idade. O resultado revela que 22,6% já experimentaram cigarro alguma vez, porcentagem mais elevada entre o público de 16 e 17 anos de idade, 32,6%, e no sexo masculino, 35%. A experimentação de narguilé, cigarro eletrônico e outros produtos do tabaco também se mostra elevada, com 26,9%, 16,8% e 9,3%, respectivamente, sendo mais alta entre os escolares do sexo masculino de 16 e 17 anos.
A coordenadora do estudo e professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Deborah Carvalho Malta, enfatiza que é necessário monitorar o consumo dos produtos do tabaco nessa população, a fim de apoiar as agendas e os compromissos nacionais e globais sobre o tema. “A adolescência é uma fase de iniciação de novos comportamentos sociais, os quais podem ser determinantes para a saúde durante a vida adulta, como o desenvolvimento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT)”.
Ela explica que foram utilizados dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), de 2015 e 2019, realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, para comparar as prevalências entre os indicadores de uso de cigarro alguma vez; uso de cigarro pela primeira vez com 13 anos ou menos; fumantes nos 30 dias anteriores à pesquisa; hábito de fumar pelos pais ou responsáveis; fumo passivo em casa e uso de cigarros pelos amigos nos 30 dias anteriores à pesquisa.
“A realização da pesquisa foi precedida de contato com as Secretarias Estadual e Municipal de Educação e com a direção das escolas selecionadas em cada município. Os alunos foram informados sobre a pesquisa e sua livre participação e avisados de que poderiam desistir caso não se sentissem à vontade para responder às questões. Por meio de smartphones, responderam ao questionário estruturado e autoaplicável, que contemplava informações sobre situação socioeconômica, contexto familiar, experimentação e uso de cigarro, álcool e outras drogas, violência, segurança, acidentes e outras condições de vida desses adolescentes que frequentam a escola", enfatiza Deborah Malta.
RESULTADOS - A experimentação do cigarro antes dos 13 anos de idade foi de 11,1%. No que se refere à convivência com pessoas que fumam, 24,3% relataram que pelo menos um dos pais fuma. O percentual de escolares que fumaram nos 30 dias anteriores à pesquisa no Brasil foi de 6,8%. "Comparando com 2015, não houve mudanças nessas prevalências. Sobre o indicador que os escolares referiram que os pais eram fumantes, deve ser visto com preocupação, na medida em que estudos demonstram a relação de uso de cigarro por adolescentes com tabagismo entre os pais ou outras pessoas próximas, o que pode ser explicado pela teoria do aprendizado social e pela naturalização do hábito", declara a professora.
A prevalência de experimentação de narguilé no Brasil foi de 26,9%, sendo mais elevada no Paraná 52,4%, seguido de Distrito Federal 50,6%, Mato Grosso do Sul 48,9% e São Paulo 45,9%. Em Minas Gerais, 25,1% dos adolescentes relataram já ter experimentado. Os estados com menor percentual foram o Pará 8,6% e o Maranhão 8,7%. Em relação ao cigarro eletrônico, 16,8% dos adolescentes do Brasil experimentaram essa substância alguma vez na vida. O Distrito Federal, seguido de Paraná e Mato Grosso do Sul, são os estados com maior prevalência, com 30,8%, 27,6% e 25,2%, respectivamente. Em Minas Gerais, o índice foi de 18,3%. O Maranhão, com 8,3%, e o Piauí, com 8,7%, são os estados com menor percentual.
Ao analisar os indicadores segundo o tipo de escola, o estudo revelou que as prevalências de todos os indicadores foram mais elevadas na escola pública, exceto a experimentação de cigarro em adolescentes de 16 e 17 anos e a experimentação de cigarro eletrônico em todas as faixas etárias, que foram mais altas nas escolas privadas.
Deborah Malta destaca que, embora o uso de cigarros nos últimos 30 dias, que representa o uso continuo do fumo, tenha prevalências semelhantes em 2015 e 2019 (6,8%), a grande preocupação está com a experimentação de produtos que chamam a atenção pela novidade, como narguilé e cigarro eletrônico.
“A estratégia da indústria do tabaco consiste em ganhar novos clientes entre o público de adolescentes, por isso se deve ter tanta preocupação com a introdução desses novos produtos, que são a porta de entrada para fixar o hábito e a dependência ao tabagismo. Preocupa muito o fato de que, embora o cigarro eletrônico seja proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, existem diversas tentativas, sob a forma de Projetos de Lei, buscando aprovar esse produto. A proibição da comercialização do cigarro eletrônico em 2009 deve-se ao fato de que esse produto não tem nenhum benefício à saúde, ao contrário, produz os mesmos malefícios do cigarro comum”, conclui a professora. Da mesma forma, desde 2014, está proibido o uso do narguilé em ambientes fechados, em função da lei de ambientes livre do fumo.