E vale rever este filme (que já se tornou mitológico) do grande falecido David Lynch. O filme volta ao cartaz nos cinemas brasileiros mais comprometidos com arte e estará sendo exibido no Instituto Moreira Salles de Poços de Caldas nos dias 18, 20 e 25 deste abril.
É um filme-enigma, que gerou legiões de admiradores. O próprio Lynch não dava muitas explicações sobre ele e dizia que achava bom que os espectadores curtissem uma de detetives para decifrá-lo. Quando começa, aparece um policial sobre uma mulher sequestrada e desmemoriada que vai parar na casa de outra, mas isso é apenas o início. O que virá desconcertou o público de cinema do mundo inteiro e surgiu pela internet um sem-fim de comentários e análises. Houve quem detestasse, mas a proporção de aficionados foi maior. O filme se impôs com um prêmio em Cannes e uma indicação ao Oscar de diretor para Lynch. Não precisava de tantos prêmios, porque ele em si mesmo é uma recompensa para os cinéfilos.
É um filme dos quais alguns trechos jamais nos sairão da memória. Para mim os trechos vitais são os da abertura com os dançarinos de jitterburg, do night club Silêncio (belíssimo), do susto que um homem leva com um sem-teto que mora atrás de uma lanchonete, do momento em que passa um cowboy-oráculo ordenando que uma personagem principal acorde. Sonhar e tentar melhorar a realidade através dos sonhos, que nos enredam em sua lógica a um só tempo sinistramente reveladora e poética, é uma chave para esse filme, um profundo retrato de uma personagem desesperada. Muita atenção para a chave azul.
