O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o projeto de lei que restringe o uso de celulares e dispositivos eletrônicos em instituições de ensino da educação básica, abrangendo escolas públicas e privadas. A medida, aprovada pelo Congresso Nacional em dezembro, determina que o uso dos aparelhos seja permitido apenas em atividades pedagógicas, de acessibilidade ou em casos excepcionais, como condições de saúde. Especialistas e educadores destacam que a regulamentação exige equilíbrio entre os riscos do uso excessivo de telas e o potencial pedagógico da tecnologia.
Um dos temas que têm gerado muitos debates entre pais, filhos, educadores e especialistas é a proibição do uso de celulares em salas de aula, principalmente nas escolas de ensino Infantil, Fundamental e Médio. Projetos de lei neste sentido já foram aprovados e viraram leis estaduais em 21 estados brasileiros.
Essas iniciativas refletem uma preocupação crescente com os impactos negativos do uso indiscriminado de dispositivos eletrônicos no ambiente escolar, buscando equilibrar o acesso à tecnologia com a necessidade de manter a concentração e o bem-estar dos estudantes.
Entre as justificativas, estão a diminuição da dependência excessiva que crianças e adolescentes vêm desenvolvendo em relação ao uso de telas, o que é apontado como causa de transtornos e doenças mentais como depressão, ansiedade e outros problemas. A regra também seria uma forma de proteger esse público contra abusos e ataques de hackers e criminosos, bem como restringir o acesso a conteúdo considerado impróprio, como pornografia, drogas, violência, linguagem imprópria e apostas eletrônicas. Por outro lado, os contrários à proibição acreditam que ela seria um retrocesso para os estudantes, num momento em que a tecnologia e a conectividade estão se integrando cada vez mais às práticas pedagógicas e ao mercado de trabalho.
Na perspectiva da professora e pesquisadora Alana Danielly Vasconcelos, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes (PPED/Unit), as questões que relacionam Educação e Tecnologia demandam uma análise mais profunda do que a simples dicotomia de proibir ou liberar. “Na verdade, o que a gente precisa é compreender o papel da tecnologia na sociedade contemporânea, porque ela muda a nossa forma de vida, o modo como a gente interage e como a gente se comunica. É também uma linguagem que essas crianças e esses adolescentes possuem na sociedade atual”, opina.
Ela defende que os estudantes e professores podem lançar mão de celulares, tablets ou smartphones para acompanhar as aulas, pesquisar informações complementares e executar as atividades relacionadas ao conteúdo ministrado em sala de aula. Por outro lado, deve-se tomar cuidado para que o aparelho não se torne um fator de distração.
Educação e orientação midiática
Um dos caminhos traçados no âmbito educacional para o uso dos celulares e aparelhos é o da educação midiática, na qual as pessoas são ensinadas a lidar com os conteúdos das mídias tradicionais e on-line, filtrando a veracidade de cada conteúdo e utilizando-o de forma ativa e crítica, seja no ambiente presencial ou no digital. Este tipo de educação pode inclusive ajudar na superação de algumas dificuldades e desafios encontrados na realidade atual da educação brasileira, como as deficiências em leitura, interpretação e feitura de cálculos simples.
“A gente precisa ter um trabalho forte de fazer uma educação que prepare esses estudantes, independentemente da idade que eles tenham, para serem participantes ativos e críticos seja no ambiente presencial ou no ambiente digital. Eu acredito que o trabalho precisa ser direcionado para uma perspectiva de uma educação midiática, em que se entenda que o problema não é só a tecnologia em recurso, mas [a forma] como ela é utilizada”, diz a professora, destacando ainda que a educação midiática é um fator que precisa ser levado em conta nas políticas públicas voltadas à educação.
O caminho para lidar com o uso de celulares por crianças e adolescentes, diminuindo a dependência do uso de telas, passa por um maior diálogo e alinhamento dentro das famílias, com os pais e responsáveis orientando diretamente os filhos e estabelecendo regras e limites.
Para Alana, a família é muito importante nesse contexto.