Ah, fim de tarde, já vem você outra vez com seus recados tristonhos! Você não consegue ser percebida por pessoas acompanhadas, luzes acesas, burburinhos, risos que se cruzam na sala, na cozinha, no quarto... Então você me encontra e vem me chatear com seu escurecer! Já não basta a certeza da minha própria consciência? Não vê que já ultrapassei limites, vivi muitos sóis e escureceres? Não venha lembrar-me, propositalmente, que mais um dia se foi, fazendo do escurecer a borracha definitiva da luz que se apagou. Deixe-me ouvir a música com alegria como se ainda fosse dia lá fora. Que ao ouvi-la, eu possa fingir não ser só, que ela logo abrirá a porta e chamará pelo meu nome. Então, fim de tarde, quando a música terminar, será noite e eu não te perceberei também.
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