09/10/2024 às 15h21min - Atualizada em 09/10/2024 às 15h21min

UFMG divulga estudo pioneiro sobre intoxicação por paracetamol no Brasil

FONTE: REITORIA-CEDECOM - [email protected] FOTO: CCS / Faculdade de Medicina da UFMG

 
O estudo destaca a importância da identificação precoce e o manejo com o antídoto em situações de superdosagem
 
A intoxicação por medicamentos pode ocorrer em diferentes circunstâncias, como a ingestão de remédios sem prescrição médica ou em doses superiores às recomendadas. A automedicação, prática nunca indicada, é comum entre pessoas que buscam alívio rápido para algum desconforto - o que, muitas vezes, resulta na ingestão de doses incorretas. Além disso, a intoxicação por medicamentos pode ser causada pela ingestão acidental por crianças ou em tentativas de suicídio.
 
Uma pesquisa realizada pela médica emergencista Thamyres Carvalho Rufato, na Faculdade de Medicina da UFMG, sob orientação do professor Marcus Vinicius de Melo, revela os perigos da intoxicação por paracetamol, um analgésico amplamente utilizado, mas que, em doses excessivas, pode causar graves danos hepáticos e até levar à morte.
 
O estudo destaca que o paracetamol, apesar de um analgésico e antipirético de uso comum, pode causar insuficiência hepática aguda quando ingerido em doses excessivas, sendo uma das principais causas desse problema nos Estados Unidos e na Europa, podendo resultar em óbito ou na necessidade de transplante hepático. No Brasil, há uma grande subnotificação desses casos, com uma distribuição heterogênea entre os estados. A maioria dos casos está relacionada a tentativas de suicídio.
 
Motivada pelos casos que presenciou em 2021, durante seu estágio na toxicologia do Hospital João XXIII, onde notou uma alta incidência de casos de intoxicações por paracetamol e a falta de estrutura adequada para o manejo desses casos, especialmente em municípios menores, Thamyres decidiu se aprofundar no estudo desse tema.
 
A PESQUISA E SEUS OBJETIVOS - O estudo teve como foco principal avaliar a relação entre a dose de paracetamol ingerida, conforme relatado pelos pacientes no momento da admissão, e os níveis séricos do medicamento - a concentração de paracetamol presente no sangue - medidos entre 4 e 24 horas após a ingestão. Além disso, foi realizada uma análise do perfil epidemiológico e clínico dos pacientes atendidos presencialmente no Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Minas Gerais (Ciatox-MG).
Foram realizados 1223 atendimentos relacionados ao uso do paracetamol, durante o período de coleta de dados e apenas 150 foram atendimentos presenciais. Destes, apenas 27% resultaram em pacientes elegíveis para o estudo. A indisponibilidade do kit para dosagem de nível sérico de paracetamol levou à exclusão de 11 pacientes. Os critérios de inclusão abrangeram pacientes que relataram ter ingerido 10 ou mais gramas de paracetamol ou doses equivalentes a 200 mg/kg.
Portanto, o estudo de caráter transversal incluiu apenas 55 pacientes, dos quais 41 (3,35%) atenderam a todos os critérios de inclusão e exclusão, sendo considerados elegíveis para a fase final.
 
Thamyres (foto) alerta que os resultados destacaram uma significativa predominância de atendimentos via teleconsulta (87,7%), o que limitou a inclusão de muitos casos no estudo, uma vez que a dosagem sérica de paracetamol, essencial para a análise, só é possível em atendimentos presenciais. “A falta de kits para dosagem do nível sérico foi outro fator limitante, evidenciando as dificuldades enfrentadas na triagem de pacientes para pesquisas clínicas nesse contexto” destacou a pesquisadora.
 
SUBNOTIFICAÇÃO E SEUS IMPACTOS - Um dos achados mais alarmantes do estudo foi a significativa subnotificação de casos de intoxicação por paracetamol no Brasil, com uma distribuição desigual entre os estados. A maioria dos casos relatados esteve associada a tentativas de suicídio. A pesquisadora aponta que a falta de cultura de notificação no país, aliada à ausência de recursos e conhecimento por parte dos profissionais de saúde, contribui para essa subnotificação, impactando diretamente no tratamento adequado dos pacientes. 

“A cultura de notificação ainda é incipiente no Brasil, o que prejudica a implementação de políticas públicas eficientes e a alocação de recursos necessários para o manejo adequado desses casos”, destaca a pesquisadora.
 
RECOMENDAÇÕES E PRÓXIMOS PASSOS - Com base nos resultados obtidos, a pesquisadora sugere que haja uma ampliação da disponibilidade de antídotos em todos os pronto-atendimentos, uma vez que esses são tratamentos eficazes, seguros e de baixo custo. Além disso, a criação de uma rede de referenciamento para centros que possuam a dosagem sérica de paracetamol poderia reduzir internações desnecessárias e garantir um tratamento mais eficiente.
O estudo também lança luz sobre a necessidade de novas investigações com amostras mais robustas e critérios de inclusão menos restritivos, para que os resultados possam ser generalizados para a população em geral.
 
Thamyres alerta para sempre seguir as instruções da bula, pois a dose recomendada varia de acordo com a idade e o peso. “A conscientização sobre os riscos do uso inadequado de paracetamol é fundamental. Campanhas de educação em saúde e o fortalecimento da comunicação entre médicos e pacientes são passos essenciais para prevenir casos de intoxicação”, conclui.

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