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28/06/2024 às 14h45min - Atualizada em 28/06/2024 às 14h45min

Retrospectiva do fotógrafo Walter Firmo chega ao IMS Poços

FONTE: IMS Poços de Caldas - [email protected]
Bumba-meu-boi São Luís MA 1994 circa Walter Firmo - Acervo IMS

 
Com abertura em 29 de junho, a exposição reúne mais de 260 obras do artista, consagrado pelo registro e pela celebração do povo e da cultura negra do país. A seleção traz desde imagens do início de sua carreira até registros recentes. No conjunto, há fotos de manifestações culturais e religiosas, retratos icônicos de artistas como Pixinguinha e Clementina de Jesus, entre outros destaques
 
A partir de 29 de junho (sábado), o IMS Poços apresenta a exposição Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito. A retrospectiva, que já foi exibida em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Salvador, traça um panorama da obra do fotógrafo carioca, marcada, sobretudo, pelas imagens que retratam e exaltam a população e a cultura negra do país. A curadoria da mostra é de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, e da curadora adjunta Janaina Damaceno Gomes, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora do Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra. A retrospectiva também conta com assistência de curadoria da conservadora-restauradora Alessandra Coutinho Campos; e pesquisa biográfica e documental de Andrea Wanderley, integrantes da Coordenadoria de Fotografia do IMS.
 
No dia de abertura (29/6), às 16h, haverá um debate no cinema do IMS Poços, com Walter Firmo e os curadores da exposição. Após a conversa, será realizada uma visita mediada com o artista pela mostra. Em seguida, às 18h30, haverá uma apresentação musical do projeto Black Safari (veja mais informações no serviço abaixo).
 
Com entrada gratuita, a seleção reúne mais de 260 fotografias, produzidas desde a década de 1950, no início da carreira do artista, até 2021. A mostra traz imagens de diversas regiões do Brasil, com registros de ritos, festas populares e cenas cotidianas. O conjunto destaca a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens, muitas vezes encenadas e dirigidas. Grande parte das obras exibidas provém do acervo do fotógrafo, que se encontra sob a guarda do IMS desde 2018, em regime de comodato.
 
Nascido em 1937 no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro, e criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses - seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém -, Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já trabalhando na revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York.
Nesse período no exterior, o artista teve contato com o movimento Black Is Beautiful e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.
 
A mostra apresenta sua obra fotográfica a partir de seis núcleos temáticos. No primeiro, o público encontra fotografias em cores de grande formato, produzidas pelo fotógrafo ao longo de toda sua carreira. Nas fotografias, prevalece uma aura de afetividade e valorização da negritude, como afirma o próprio artista: “Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou.”
 
Gaudêncio da Conceição, quilombola da Comunidade do Angelim, Ticumbi em Festa de São Benedito, c. 1989. Conceição da Barra, ES. Foto de Walter Firmo. Acervo IMS / Coleção Walter Firmo
 
Nas seções seguintes, a retrospectiva evidencia como, no decorrer de sua carreira, Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental e direto, que poderá ser visto no andar inferior da mostra, tendo como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em diálogo com a pintura e o cinema.
 
Como destaque, a exposição apresenta ainda retratos de músicos produzidos por Firmo, principalmente a partir da década de 1970. Nas imagens, que ilustram inúmeras capas de discos, estão nomes como Dona Ivone Lara, Cartola, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Chico Buarque. Nesse conjunto, está ainda a famosa série de fotografias de Pixinguinha.
 
A exposição traz também um ensaio com fotografias do artista Arthur Bispo do Rosário, realizado em 1985 para a revista IstoÉ. A retrospectiva apresenta ainda diversos registros produzidos durante celebrações tradicionais brasileiras, como a Festa de Bom Jesus da Lapa, a Festa de Iemanjá e o próprio Carnaval do Rio de Janeiro. Há também um núcleo com fotos feitas em outros países, como Cuba, Jamaica e Cabo Verde.
 
Na mostra, o público poderá assistir ainda ao curta-metragem Pequena África (2002), do cineasta Zózimo Bulbul, no qual Firmo trabalhou como diretor de fotografia. O filme trata da história da região que dá nome ao título, área da zona portuária do Rio que recebeu milhões de africanos escravizados.
 
Os últimos dois núcleos, presentes no andar inferior do centro cultural, são dedicados à fotografia em preto e branco de Firmo, uma oportunidade única de compreensão dessa produção, ainda pouco conhecida e em grande parte inédita. Nessa parte, um dos destaques é a série de imagens feitas na praia de Piatã, em Salvador, entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000.
Ainda neste andar, é possível encontrar a biografia do artista, abordando os seus primeiros anos de atuação na imprensa, quando registrou temas do noticiário, em imagens em preto e branco. O conjunto inclui uma fotografia do jogador Garrincha, feita em 1957; imagens de figuras proeminentes da política nacional, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek; além de registros de ensaios de escolas de samba do Rio de Janeiro.
 
Ao longo do período expositivo, o público poderá conhecer em profundidade a obra de um dos grandes fotógrafos do país, que até hoje, aos 87 anos, mantém seu compromisso pelo fazer artístico, como afirma em suas próprias palavras: “Aí está o meu relato, a história de uma vida dedicada ao fazer fotográfico, dias encantados, anos dourados. Qual a minha melhor imagem? Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer. Emoções, demais.”
 
SERVIÇO:
Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito
Abertura: 29 de junho. Visitação até 17 de novembro
IMS Poços
Entrada gratuita
 
Debate com Walter Firmo, Janaina Damaceno Gomes e Sergio Burgi, seguido de visita pela exposição
29 de junho (sábado), às 16h
Auditório do IMS Poços
Entrada gratuita, com lugares limitados e distribuição de senhas 1 hora antes
 
Apresentação musical do projeto Black Safari - Explorando novos horizontes
29 de junho (sábado), às 18h30
Chalé do IMS Poços
Entrada gratuita. Lugares limitados.
  
IMS Poços
Rua Teresópolis, 90 - Jardim dos Estados - Poços de Caldas (MG)
Tel: (35) 3722 2776
Horário de funcionamento: Terça a sexta, das 13h às 19h; sábados, domingos e feriados, das 9h às 19h. Entrada gratuita
 
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