FONTE: Nathalia Abreu - [email protected] - FOTOS: Reprodução Google Dr. Marcelo Valadares
Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião da Unicamp e do Einstein, analisa os tratamentos para gerenciar a experiência da lombalgia
A dor nas costas - que clinicamente recebe o nome de lombalgia - cresceu 60% entre 1990 e 2020, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e chegou a 619 milhões de pessoas. Nas próximas décadas, a projeção é de alta, com 843 milhões de pessoas afetadas em 2050. 1 a cada 13 milhões de indivíduos passaram por ao menos um episódio desse problema, que é a principal causa de incapacidade no mundo. Quem ainda não experimentou esse incômodo, provavelmente terá algum dia.
A condição é caracterizada por dor persistente na parte inferior da coluna que se prolonga por mais de três meses e limita a realização de atividades, como trabalhar, cuidar do lar e ter momentos de lazer.
“A postura adotada no dia a dia, o sedentarismo e fatores psicológicos podem fazer com que a condição postural seja inadequada, e o acúmulo de maus hábitos posturais gere consequências para a lombar. Porém, há dores que são sintomas de doenças graves, como câncer”, explica o Dr. Marcelo Valadares, médico neurocirurgião do Einstein e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Tendo em vista os impactos para a saúde da população e os custos econômicos e sociais da lombalgia, a OMS traçou a primeira diretriz¹ que orienta o tratamento da doença, com práticas recomendadas por especialistas de todo o mundo segundo evidências científicas positivas disponíveis. Ela inclui, entre outros, os tratamentos a seguir:
Terapias físicas A prática de exercícios e massagens são recomendados para a dor nas costas crônicas, uma vez que ajudam a fortalecer os músculos da região lombar, do abdômen e das pernas, proporcionando melhor suporte à coluna vertebral e reduzindo a pressão sobre as vértebras, além de aumentar a flexibilidade, relaxar os músculos tensionados e melhorar a circulação sanguínea na área afetada. A acupuntura também é indicada para o quadro. Essa terapia de agulhamento estimula os nervos e promove a liberação de endorfinas e serotonina, que aliviam a dor e a reduzem a inflamação. “A combinação dessas práticas permite um tratamento multidisciplinar para a lombalgia. O ideal é começar com períodos curtos e intensidade leve, e ir aumentando gradualmente”, explica o Dr. Marcelo.
Psicoterapia Há dois tipos de terapias indicados pela OMS para o tratamento da lombalgia: a Terapia Comportamental Operante e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Elas são benéficas para o quadro, pois se voltam a modificar comportamentos e pensamentos que contribuem para a dor crônica. Para o neurocirurgião Dr. Marcelo, o trabalho de profissionais da psicologia é necessário para que o paciente retome a sua vida. “Carregar um fardo emocional ou psicológico pode motivar a dor nas costas, e a terapia com um especialista ajudará o paciente a compreender tudo aquilo que ele é capaz de fazer, ao invés de focar na dor”, explica ele. Ao reforçar comportamentos saudáveis, como a prática de exercícios e a manutenção de uma boa postura, e desencorajar comportamentos prejudiciais, como o sedentarismo, além de ajudar a reestruturar pensamentos negativos e crenças irracionais sobre a dor, reduzindo o medo e a ansiedade, as terapias contribuem para a funcionalidade do paciente e melhoram a sua qualidade de vida.
Anti-inflamatórios Os medicamentos anti-inflamatórios simples, como ibuprofeno e diclofenaco, atuam reduzindo a inflamação nos tecidos ao redor da coluna vertebral, o que provoca alívio da dor. Ambos têm ação rápida e podem ser úteis para determinados perfis de pacientes com dores crônicas. “Apesar do fácil acesso ao paciente, é importante que o medicamento seja prescrito por um médico. O uso de anti-inflamatórios é pontual para esses casos”, alerta o especialista. A OMS recomenda, ainda, preparações tópicas à base de pimenta-caiena (Capsicum frutescens). O composto capsaicina atua como analgésico natural, aliviando a dor ao bloquear temporariamente os sinais de dor transmitidos ao cérebro, e, ainda, promove a liberação de endorfinas, que ajudam a reduzir a percepção da dor.
O QUE NÃO USAR PARA DOR NAS COSTAS CRÔNICA Em busca de alívio, há pacientes que recorrem a tratamentos que, de acordo com a OMS, não são recomendados ou não são conclusivos, principalmente devido aos limitados estudos existentes, mas que, ao mesmo tempo, são importantes para o gerenciamento da dor. É o caso de corticoides, paracetamol, fitoterápicos como garra-do-diabo e salgueiro, técnicas de tração, entre outros. “Quem convive com dores crônicas busca todo o tipo de alternativa e pode se colocar em risco e agravar seu quadro. É preferível buscar um especialista para diagnosticar e avaliar o quadro e, a partir das diretrizes da OMS e de seu conhecimento, auxiliar o paciente a administrar o incômodo e promover pequenas mudanças favoráveis no dia a dia, pois isso vai garantir que a dor não retorne depois de um tempo”, esclarece o médico.
SOBRE O DR. MARCELO VALADARES - Dr. Marcelo Valadares é médico neurocirurgião no Hospital Albert Einstein e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A Neurocirurgia Funcional é a sua principal área de atuação. O especialista também é fundador e diretor do Grupo de Tratamento de Dor de Campinas, que possui uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos. No setor público, recriou a divisão de Neurocirurgia Funcional da Unicamp, dando início à esperada cirurgia DBS (Deep Brain Stimulation - Estimulação Cerebral Profunda) naquela instituição. Estabeleceu linhas de pesquisa e abriu o Ambulatório de Atenção à Dor afiliado à Neurologia.