09/11/2023 às 16h12min - Atualizada em 09/11/2023 às 16h12min
No Canadá: Nanomedicina "made in Brazil" potencializa efeitos da cannabis
FONTE: Gabriel Malagrino - [email protected] - FOTOS: Divulgação
Médica Mariana Maciel Tecnologia desenvolvida por médica de Minas Gerais, que liderou equipe no Canadá, aumenta em até 10 vezes a absorção de fitocanabinóides; fármaco já pode ser importado para o Brasil
Criada sob liderança de uma brasileira, a tecnologia Powernano™ foi desenvolvida por meio de nanomedicina em um laboratório em Vancouver, no Canadá, e é uma das inovações farmacológicas apresentadas como revolucionárias da medicina canabinoide pelo 2º Anuário da Cannabis Medicinal no Brasil, lançado no último dia 7, pela Kaya Mind, primeira empresa brasileira especializada em dados e inteligência de mercado no segmento da cannabis do país. O anuário pode ser acessado por este link.
Mariana Maciel, médica nascida em Minas Gerais, foi quem liderou a equipe de canadenses que se uniu para solucionar complexidades metabólicas da cannabis medicinal: a baixa e ineficiente absorção dos fitocanabinoides pelo corpo humano.
Pesquisas comprovam que cerca de apenas 6% do CBD convencional e 8% do THC convencional (óleos hoje encontrados à venda no Brasil em farmácias ou por meio de importação) alcançam a circulação sistêmica após ingeridos¹. Por isso nasceu a Thronus Medical, empresa canadense com a força da pesquisa e da inovação brasileira.
A sede na América do Norte não é mero detalhe ou coincidência: foi só ao mudar-se para Vancouver, onde a cannabis medicinal era amplamente aceita e estudada, que a especialista passou a considerar os derivados da planta enquanto opção terapêutica. “Apenas a partir dessa nova vivência que me livrei de certos preceitos sobre o assunto e comecei todo um processo de pesquisa e especialização”, conta Dra. Mariana. “A Thronus nasce como uma equipe de cientistas focada em inovação, com o objetivo de utilizar todo o potencial dos princípios ativos da planta para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.”
Pensar grande levou a empresa a conquistar mercados importantes da medicina canábica, sempre junto a laboratórios parceiros e distribuidores na América do Norte, América Latina e Europa. A tecnologia exclusiva assinada pela médica, entretanto, se relaciona a um universo muito, mas muito menor - a Thronus é a pioneira em aplicar nanotecnologia à medicina canábica. Para que se tenha uma ideia, as partículas de cannabis da Thronus são reduzidas a cerca de 17 nanômetros, o que é menor que um fio de cabelo.
Essa inovação em relação ao tamanho acompanha outra característica inédita: o encapsulamento dessas moléculas é feito em solução hidrossolúvel, o que potencializa e agiliza a absorção dos princípios ativos dos fármacos.
Comparado com um tratamento à base de óleo de CBD convencionais, nos quais apenas cerca de 6% do CBD e 8% do THC alcançam a circulação sistêmica após a ingestão, a absorção do medicamento administrado com a tecnologia PowerNano™ pode ser até 10 vezes maior e mais rápida.
Isso acontece pois os óleos tradicionais se diluem pouco no aparelho digestivo, já que nosso organismo, constituído principalmente de água, tem certa dificuldade em absorver esses óleos.
O tempo de início de ação é muito importante para qualquer medicamento. No caso dos fármacos canábicos, inclusive, a melhora significativa da biodisponibilidade pode ter caráter decisivo na qualidade de vida do paciente. “Em crises epilépticas, por exemplo, a rapidez na absorção de do princípio ativo conta muito, pois cada segundo a menos de crise ameniza as sequelas neurológicas dos pacientes”, explica a especialista.
A diversidade de modos para a “entrega” desses princípios ativos dos medicamentos também melhora a adesão aos tratamentos de médio e longo prazos. A própria Thronus disponibiliza fármacos em formatos de “gummies”, com gosto e cheiro de bala de goma de morango, como alternativa mastigável e saborosa para, por exemplo, para autistas que em geral convivem com hipersensibilidade a cheiros, sabores e texturas. “Um estímulo desconfortável ou até insuportável pode acabar impedindo o tratamento. É uma forma menos traumática e mais objetiva, inclusive, na hora de administrar a dose certa da medicação”, conclui Dra. Mariana. Outra forma de entrega é a intranasal, considerada “de resgate”, já que é mais fácil de ser administrado por pacientes que estão em crise ou em surto, como durante uma crise epiléptica, surto de esclerose múltipla ou convulsões, bem como por pessoas próximas.
Comparação com fármacos tradicionais
“A nanomedicina desempenha um papel significativo na administração de medicamentos, principalmente devido ao grande número de limitações e problemas que afetam os agentes farmacêuticos convencionais (Saini et al., 2010)”, explica a especialista. Um dos problemas importantes dos sistemas de entrega de fármacos (SEFs) convencionais é a dificuldade em remover as partes residuais de tais sistemas, deixando para trás material não biodegradável dentro do corpo do paciente, o que pode causar toxicidade.
Mais informações em: https://thronusmedical.com/
[1] Cherniakov, I., Izgelov, D., Domb, A.J., and Hoffman, A. (2017b). The effect of Pro NanoLipospheres (PNL) formulation containing natural absorptions enhancers on the oral bioavailability of delta-9-tetrahydrocannabinol (THC) and cannabidiol (CBD) in the rat model. Eur. J.Pharm. Sci. 109, 21-30