28/08/2023 às 15h57min - Atualizada em 28/08/2023 às 15h57min
Falando... sem falar
Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
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Figura meramente ilustrativa - Reprodução Google C
Naquele tempo, no final da década de 1980, era diretor responsável de um jornal semanal (“Tribuna Machadense”) em Machado (MG) e, entre as atribuições, estava o de acompanhar as sessões legislativas da Câmara Municipal.
O meu amigo-irmão Pedro Bertozzi era o responsável por registrar o que ocorria e depois publicávamos no jornal.
Em uma das reuniões legislativas fomos surpreendidos com um vereador que, ocupando a tribuna da Câmara, falou “cobras & lagartos” contra o jornal, afirmando que não havia falado nada do que registramos na sessão anterior, que mentimos sobre os fatos, que éramos “comprados” etc e tal.
No outro dia, sabendo do fato, procurei o presidente da Câmara solicitando que na próxima sessão legislativa, pudéssemos, da mesma forma, utilizar a tribuna e fazer a defesa do jornal perante as acusações do vereador. O presidente me atendeu muito bem, porém, disse que iria ver o que poderia ser feito e dias depois, me falou mais ou menos isso:
- “Olha Wiliam, você poderá utilizar a tribuna, só que não poderá falar”.
Não se espante, caro leitor, porque também fiquei muito espantado com o que ouvi. Como usar a tribuna, se não poderia falar absolutamente nada?
Contudo, dei o meu ok para o presidente. Iria utilizar a tribuna, porém, não iria falar nada.
No dia da sessão legislativa, se não me engano, em uma noite de terça feira, lá estava eu inserido na programação.
Ao ouvir meu nome, me dirigi à tribuna para defender o “Tribuna”... rs
Olhando para os nobres edis, saquei do meu bolso um pequeno gravador e disponibilizei o áudio do vereador falando exatamente o que havíamos publicado.
Ao terminar a minha fala, percebi um silêncio "ensurdecedor" no recinto.
E, foi assim, na vizinha e amiga cidade de Machado, que um jovem jornalista falou, em defesa da verdade e da liberdade de expressão, sem precisar usar a voz.
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