Os leitores do grande escritor mineiro Guimarães Rosa, conhecendo bem sua obra-prima “Grande Sertão: Veredas” e seus contos admiráveis de “Sagarana” e outros livros, conhecem menos um volume seu chamado “Ave, palavra”, que já teve muitas edições, mas é petisco raro, funcionando melhor para os que gostam das aventuras linguísticas de Rosa, aventuras nas quais ele se revelou um dos maiores poeta em prosa da língua portuguesa.
Não creio que muitos poços-caldenses saibam que Rosa, nesse “Ave, palavra”, presta um tributo a Poços de Caldas. Isso acontece no texto “Terrae Vis”, página 255 do livro. O assunto é incomum, “eflúvios terrestres”. Citarei trechos: “Amigo meu, homem viajado e sensível, assegura-me que - se o levassem, de tapados ouvidos e olhos, a uma das muitas cidades deste mundo dele conhecidas - ainda assim a identificaria, e imediatamente. Acho bem possível. Digo mesmo que também me sinto capaz de às vezes não errar, em o caso. Não que prometa reconhecer todos os lugares onde já tenha estado; mas, pelo menos quanto a uns oito ou sete, posso quase garantir.” E Rosa segue com o raciocínio, falando dessas cidades reconhecíveis por “irradiações telúricas”, chegando ao Rio de Janeiro.
“Demais, foi Keyserling quem escreveu, da Cidade Maravilhosa: ´O ambiente do Rio de Janeiro é um puro afrodisíaco. Creio verdade. Menos afrodisíaco, contudo, que digamos, que o da terráquea Poços de Caldas - seguramente um dos lugares brasileiros mais abençoados pela risonha filha de Júpiter.” E há mais: o Sul de Minas todo merece outro tributo de Rosa no mesmo livro. Dessa região ele diz: “quem sabe uma das mais tranquilas jurisdições da felicidade neste mundo.” ´
Nada melhor que termos o maior dos escritores mineiros (e certamente um dos maiores do país) reconhecendo beleza e poesia no lugar em que vivemos.
