25/05/2023 às 16h09min - Atualizada em 25/05/2023 às 16h09min
Café: como a bebida e os seus encantos podem tornar os espaços mais agradáveis
FONTE: Rafael Franco - [email protected] - FOTOS: Divulgação
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O arquiteto Lorí Crízel explica como o aroma do produto e seus estímulos sensoriais são utilizados para criar ambientes acolhedores
Nesta última quarta-feira (24 de maio) foi comemorado o Dia Nacional do Café. Segunda bebida mais consumida do mundo, ficando atrás apenas da água, o café é parte essencial do dia a dia da maioria das pessoas, seja em casa, no trabalho, nos momentos de lazer ou durante as refeições em restaurantes, cafeterias e bares. O tradicional cafezinho traz, também, uma particularidade: o aroma sedutor que exala enquanto está sendo preparado e que pode ser sentido até mesmo nas prateleiras, dentro dos pacotes, em grãos ou em pó, com os seus diferentes tipos de torra.
Dessa forma, a pessoa pode até não gostar de café, mas é impossível não notar a sua presença marcante. A bebida é um poderoso meio de confraternização e, para o brasileiro, está consagrada como uma identificação cultural, pois o Brasil figura há bastante tempo como o maior produtor e exportador cafeeiro do planeta. Ao analisar esse contexto, o arquiteto e urbanista Lorí Crízel, especialista em neuroarquitetura, destaca como os aromas e estímulos sensoriais que o café provoca podem ser utilizados para ajudar a criar ambientes mais aconchegantes para os seus usuários.
Presidente da ANFA (Academy of Neuroscience for Architecture) no Brasil e autor do primeiro livro do país sobre neurociência aplicada à arquitetura, design e iluminação, o especialista ressalta como a odorização adequada de um espaço pode exercer um papel relevante entre os elementos que compõem um projeto e lembra como o café possui uma alta capacidade de colaborar para o objetivo de oferecer um local acolhedor por meio de sua influência sensorial.
“A maioria de nós tem um histórico familiar, um sentimento de apropriação em relação ao café e ao seu cheirinho que lembra, por exemplo, a casa da avó, da fazenda etc. A gente sempre remonta essa bebida a momentos muito prazerosos”, analisa o especialista em neuroarquitetura.
O olfato, explica Crízel, desperta memórias muito mais intensas e viscerais do que outros sentidos, como a audição, o toque e a visão. “Quando falamos do odor, tratamos de um dos sentidos com uma potencialidade muito grande em função de alguns aspectos neurológicos. O odor é um sentido que leva a informação sensorial direto para o córtex olfativo, não passando por nenhum dos outros intermediários neurais, enquanto os outros sentidos passam por uma determinada tradução, uma filtragem para serem reconhecidos e aplicados”, explica Crízel.
Essa capacidade do olfato, em conjunto com a presença do café em nosso cotidiano, faz do aroma da bebida um aliado nos projetos arquitetônicos, tornando os ambientes mais agradáveis. Repleto de qualidades e encantos, o café se tornou sinônimo de acolhimento ao ser oferecido em inúmeros locais e tem uma capacidade de tornar mais hospitaleiros os espaços onde está presente. Assim, a bebida tem sido utilizada de diversas maneiras como um elemento que ajuda a compor projetos de ambientes que proporcionem relaxamento e aliviem o estresse.
“Em uma cafeteria, por exemplo, na qual uma pessoa passa pela porta e se sente atraída pelo cheiro do café, nós podemos utilizar isso por meio de várias configurações para promover o espaço. Normalmente, são configurações de aconchego, de permanência, de convite ao usuário, de gerar identidade e conexão. Então, sempre é o cafezinho, sempre é aquela coisa gostosa, de estarmos entre amigos, entre aqueles que nós gostamos, enfim, ele traz toda essa condicionante simbólica junto com ele”, enfatiza Crízel, lembrando que um restaurante de portas abertas, que exale um cheiro agradável, tem um potencial maior de despertar a fome e atrair mais clientes que transitam na porta do local do que outros que funcionam com as portas fechadas.
“Isso não acontece apenas em uma cafeteria, em um bar ou em restaurante. Quando você chega em um hotel ou em uma pousada e lá tem aquele cheirinho de café na recepção, é porque o local tem o objetivo de ser mais convidativo, de trazer aquela sensação de acolhimento, de aconchego, de que você é bem-vindo naquele local”, diz o especialista, lembrando outro tipo de espaço no qual a presença do café pode desempenhar um papel importante para uma melhor experiência dos seus usuários. “As clínicas médicas acabam utilizando isso também, porque promovem esse aconchego, que tende a diminuir um pouco os níveis de ansiedade e receio nas pessoas. Ou seja, a gente tem ali uma condicionante de gerar menos estresse porque já é um ambiente que, dependendo do tipo de clínica, você pode estar um pouco nervoso”, reforça.
SOBRE LORÍ CRÍZEL - Lorí Crízel é arquiteto e urbanista, presidente da ANFA (Academy of Neuroscience for Architecture) no Brasil e membro da ANFA Center for Education Latin America. Professor no Master Degree em Design for Architecture no POLI. Design do Instituto Politécnico de Milão e mestre em conforto ambiental, o profissional é o autor do primeiro livro do país sobre neurociência aplicada à arquitetura, design e iluminação. Doutorando em Neuroarquitetura, Mestre em Conforto Ambiental e Especialista em Neurociências e Comportamento Humano, ele também coordena cursos e programas internacionais do IPOG (Instituto de Pós-Graduação e Graduação) no Brasil, é CEO do escritório Lorí Crízel + Partners, além de mentor do programa Design Tank Brasil e membro fundador do projeto Neuro in Lab, além de possuir uma vasta bagagem internacional por meio de imersões em alguns dos mais renomados escritórios de arquitetura do mundo, como o Norman Foster e o Zaha Hadid (ambos de Londres); o Christian de Portzamparc (Paris); o BIG e o Effekt Architects (Copenhagen); o Concrete Architects (Amsterdã); o Aires Mateus (Lisboa); o Hassell Studio, o AEDAS Architecture, o Architects 61 e o Design Link Architects (todos de Singapura); o Tandem Architects e DBALP Jam Factory (ambos de Bangkok) e o X Architects (Dubai). Crízel também realizou atividades Institucionais junto ao POLI. Design do Instituto Politécnico de Milão, ao McGill University (Canadá) e à Universidade do Porto (Portugal).