25/05/2023 às 15h21min - Atualizada em 25/05/2023 às 15h21min
Inhotim expõe obras de Mestre Didi e Mônica Ventura
FONTE: Amanda Viana - [email protected]
Mestre Didi, EYE NLA AGBA, Grande Pássaro Ancestral, década de 1980 - Foto: Divulgação/Instituto Inhotim C
Como parte do programa artístico 2023, duas novas exposições são abertas no Inhotim e trazem questões da ancestralidade e da religiosidade de povos afro-indígenas
O Instituto Inhotim inaugura mais duas exibições temporárias, a partir do dia 27 de maio, sábado, na Galeria Praça. Mestre Didi - “os iniciados no mistério não morrem”, com curadoria de Igor Simões, curador convidado, e da equipe curatorial do Inhotim, e A noite suspensa ou o que posso aprender com o silêncio, de Mônica Ventura, dialogam com questões da ancestralidade e da religiosidade de povos afro-indígenas. As exposições contam com o Patrocínio Master da Shell por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
A noite suspensa ou o que posso aprender com o silêncio foi comissionada pelo Inhotim para ocupar o vão central da Galeria Praça, umas das mais visitadas no museu e jardim botânico. A obra se destaca, à primeira vista, por sua escala: são aproximadamente 4 metros de altura e 9 metros de largura. Mônica Ventura (São Paulo, 1985) traz uma proposta de olhar o entorno e a potência local, fazendo uso da terra da região na construção da obra - a parede, o leito e a escultura são feitas desse elemento.
Neste trabalho, Mônica Ventura faz alusão a diferentes práticas religiosas de matrizes ancestrais, e o público é convidado a desvendar as camadas da instalação, cuja forma se associa aos zangbetos, espíritos ancestrais cultuados em algumas religiões no Golfo do Benim, responsáveis pela proteção e afastamento de males, e também aos praiás, elementos fundamentais da cosmologia Pankararu, povo originário brasileiro cujo território tradicional se encontra próximo ao rio São Francisco.
Adentrando o universo múltiplo de Deoscóredes Maximiliano dos Santos (1917-2013), Mestre Didi, a exposição Mestre Didi - “os iniciados no mistério não morrem” exibe cerca de 30 obras do artista, feitas em consonância com a sua atividade de liderança religiosa no Candomblé e pertencentes à Coleção do Instituto Inhotim. Seu título, de acordo com o curador convidado Igor Simões, é um trecho de uma cantiga entoada durante as cerimônias fúnebres de um Ojé, sacerdote da tradição Egungun. As obras expostas são feitas, em geral, de fibras do dendezeiro, búzios, contas, sementes e tiras de couro, com a presença de símbolos que remetem às tradições iorubá.
“Como parte de sua programação, o Instituto Inhotim tem exibido suas recentes aquisições, com foco na produção de autoria negra. As obras do Mestre Didi presentes na mostra ratificam a missão da instituição de compartilhar essa produção com o grande público, sempre em diálogo com as discussões presentes no campo da arte”, destaca o curador assistente do Inhotim, Deri Andrade.
A exposição convida o público a conhecer outras dimensões de Mestre Didi, sobretudo para a cultura brasileira. Além de sua atuação no campo cultural, Mestre Didi foi sacerdote supremo - também conhecido como Alápini - do culto aos ancestrais Egungun, tendo fundado em Salvador, em 1980, a Sociedade Religiosa e Cultural Ilê Asipá. Na mostra, todas essas vivências da trajetória de Mestre Didi – a intelectualidade, a espiritualidade e o sagrado - estão registradas, ademais as esculturas, a partir do acervo da Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil (SECNEB), com uma série de documentos e imagens cedidos gentilmente pela cantora e bailarina Inaicyra Falcão, uma das filhas de Mestre Didi. Outro aspecto abordado na mostra é a presença feminina na trajetória do artista.
Mestre Didi - “os iniciados no mistério não morrem” e A noite suspensa ou o que posso aprender com o silêncio fazem parte do Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra. A convite da curadoria do Instituto Inhotim, Igor Simões assinará, além desta exposição de Mestre Didi, um conjunto de curadorias na instituição ainda em 2023, integradas ao Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra.