Dia mundial do RIM - creatinina e saúde renal: indicador que todos precisam conhecer
A creatinina, frequentemente reduzida a números em exames laboratoriais, é um indicador importante da saúde dos rins. Produzida a partir da creatina - substância essencial para o fornecimento de energia muscular -, a creatinina é um subproduto do metabolismo energético e é eliminada pelos rins. Sua análise vai além de um exame de rotina, sendo uma ferramenta essencial para a detecção precoce de doenças renais.
O funcionamento renal adequado garante que a creatinina seja filtrada e excretada de maneira eficiente. Quando esse processo é comprometido, seus níveis no sangue aumentam, sinalizando uma possível disfunção dos rins. Essa relação direta entre filtração renal e concentração sanguínea faz com que a dosagem da creatinina seja um dos exames mais acessíveis e confiáveis para monitorar a saúde renal.
Vale ressaltar que, no Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2014 - 2015 analisou os níveis de creatinina sérica de mais de oito mil adultos, revelando que 6,7% apresentavam valores indicativos de doença real crônica, uma condição que afeta aproximadamente 10% da população mundial. Apesar da importância do monitoramento da creatinina, a pesquisa apontou que 40,6% dos entrevistados nunca haviam realizado esse exame, indicando uma lacuna significativa no rastreamento precoce de doenças renais.
A importância desse exame se amplifica diante da prevalência de doenças renais silenciosas, que podem evoluir sem sintomas evidentes até estágios avançados. Nesse sentindo, a creatinina atua como um alerta precoce, permitindo intervenções preventivas antes que dados irreversíveis se estabeleçam.
Fatores que influenciam os níveis de creatinina
Embora níveis elevados de creatinina sejam frequentemente associados a problemas renais, diversos fatores podem interferir nos resultados. A desidratação, consumo excessivo de proteínas, uso de suplementos de creatina e atividades físicas intensas podem causar um aumento temporário desse marcador sem necessariamente refletir uma doença renal. Da mesma forma, valores abaixo do normal podem ser influenciados por baixa ingestão proteica ou perda de massa muscular.
Os níveis normais de creatinina variam conforme idade e gênero, sendo que em adultos os valores de referência geralmente ficam entre 0,70 e 1,3 mg/dL para homens e entre 0,60 e 1,2 mg/dL para mulheres. Por outro lado, níveis reduzidos, embora menos comuns, podem estar associados a dietas pobres em proteínas ou perda de massa muscular.
Esse cenário reforça a necessidade de uma análise contextualizada dos resultados, considerando fatores individuais como idade, gênero e condições de saúde preexistentes. Somente uma avaliação médica criteriosa pode determinar a real implicação de qualquer alteração nos níveis de creatinina.
A realização periódica do exame de creatinina é fundamental, principalmente para grupos de risco, como diabéticos, hipertensos, idosos e pessoas com histórico familiar de doenças renais. No entanto, a conscientização sobre sua importância ainda é limitada. Campanhas educativas, incentivos a realização de exames preventivos e a incorporação desse monitoramento em programas de saúde pública são estratégias que podem contribuir para a detecção precoce de doenças renais.
O papel da conscientização e da prevenção
Manter hábitos saudáveis como hidratação adequada, alimentação equilibrada e controle de doenças crônicas, desempenham um papel central na preservação da função renal. A combinação entre prevenção e acompanhamento regular pode evitar complicações graves, como a progressão para insuficiência renal crônica, condição que pode exigir diálise ou até mesmo um transplante.
Além da dosagem de creatinina, outros exames complementares são essenciais para uma avaliação abrangente da função renal. A Taxa de Filtração Glomerular (TFG) estima a eficiência dos rins na filtração do sangue. A ureia sérica mede a concentração de ureia no sangue, outro indicador de função renal. O exame de urina tipo 1 avalia a presença de proteínas, glicose e outros elementos que podem sinalizar alterações renais. A relação albumina/creatinina na urina detecta pequenas quantidades de proteína, um dos primeiros sinais de doença renal. A ultrassonografia renal permite a avaliação da anatomia dos rins e vias urinárias. A dosagem de cistatina C é um marcador mais sensível para detectar alterações na função renal. E a proteinúria de 24 horas mede a quantidade de proteína excretada na urina ao longo de um dia.
A ausência de diagnóstico precoce de problemas renais pode levar a consequências graves, como progressão para insuficiência renal crônica, doenças cardiovasculares, retenção de líquidos, acúmulo de toxinas no corpo e anemia. Portanto, a conscientização sobre a importância do exame de creatinina é fundamental para a prevenção e tratamento adequado das doenças renais.
Para incentivar a população a realizar exames periódicos de saúde renal, é necessário implementar campanhas de conscientização, programas de saúde pública, parcerias com empresas e escolas, incentivos financeiros, educação contínua, apoio de profissionais de saúde e compartilhamento de histórias reais que evidenciem os benefícios do diagnóstico precoce.
A creatinina embora muitas vezes negligenciada, é um marcador crucial para a avaliação da saúde renal. Seu monitoramento regular pode ser chave para evitar complicações graves, permitindo diagnósticos precoces e intervenções oportunas. A adoção de medidas preventivas e a conscientização da população sobre a importância desse exame são essenciais para a redução da incidência de doenças renais e a promoção de uma vida mais saudável.
Por Douglas Gemente - Médico Nefrologista, Especialista em Diálise e Conrado Pithon, é Gerente da unidade de negócios Diálise B.Braun Brasil - multinacional alemã de soluções médico-hospitalares