Poços de Caldas é um verdadeiro tesouro de histórias de sucesso, muitas vezes escondidas em seus recantos. Uma dessas joias, talvez pouco conhecida por muitos, é a Associação dos Agricultores Familiares do Córrego D’Antas - Assodantas, que guarda uma rica história ligada à imigração italiana na região e ao protagonismo num café especial e certificado pelo Comércio Justo (Fair Trade).
No final do século XIX, a economia brasileira, especialmente a de Minas Gerais, dependia do café. Com o fim da escravidão, surgiu a necessidade de uma nova força de trabalho. Minas Gerais começou a financiar a passagem de milhares de imigrantes italianos para trabalharem nas lavouras de café, tornando-se um dos principais estados receptores dessa imigração no Brasil. Entre 1872 e 1930, o estado recebeu cerca de 77.483 italianos, com aproximadamente um terço desse total se estabelecendo no Sul de Minas. Poços de Caldas foi um destino facilitado pela inauguração da Estrada de Ferro Mogiana, em 1886. Assim, entre 1889 e 1890, os primeiros colonos italianos chegaram, principalmente do Vêneto, Toscana, Friuli, Lombardia e Romagna.
Alguns anos depois, muitas dessas famílias italianas, como os pioneiros Benelli, Barzagli e Consolini, já tinham comprado suas terras e se tornado independentes dos grandes fazendeiros de café. Essas famílias se fixaram onde hoje é o bairro rural do Córrego D’Antas. Atualmente, a comunidade é formada por cerca de 80 famílias, das quais aproximadamente 41% têm origem italiana. São pequenos e médios agricultores familiares, com propriedades variando de 5 a 12 hectares, num total de 385 hectares dedicados ao plantio, pasto e residências, sendo o café o principal cultivo.
O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, com cerca de 38% da produção global, o que equivale a 55 milhões de sacas por ano. O café é a commodity agrícola mais comercializada globalmente e a segunda maior em valor de mercado, atrás apenas do petróleo. Diante desse cenário competitivo e volátil, como pode o pequeno produtor sobreviver dignamente?
É aqui que a história de sucesso da Assodantas e do Fair Trade ganha destaque. O Fair Trade visa diminuir a disparidade entre as populações ricas e pobres por meio de práticas comerciais justas, estreitando o contato direto entre produtor e comprador, desburocratizando o comércio e protegendo contra as instabilidades do mercado global de commodities. A certificação Fair Trade, concedida a produtores que atendem a rigorosos critérios sociais, econômicos e ambientais, oferece benefícios como preços mínimos justos, financiamento, antecipação de pagamentos e prêmios.
Em 2009, com o apoio do SEBRAE e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do município, a Assodantas conseguiu a certificação Fair Trade. Mas o protagonismo não parou por aí: em 2016, tornou-se a primeira associação do mundo certificada a ser dirigida por uma mulher, Sandra Aparecida Benelli Piva. Hoje, em parceria com a Bourbon Specialty Coffee, a Assodantas exporta seus cafés especiais para destinos como Suíça, EUA, Reino Unido e Japão. E foi, para conhecer de perto essa história de sucesso, que os alunos do Projeto Turismo Educativo 60+ foram calorosamente recebidos por Sandra na Assodantas para uma tarde de bate-papo e um delicioso café.
O Projeto Turismo Educativo 60+ é uma iniciativa social e voluntária que promove o senso de pertencimento e valorização da cidade através do "turismo cidadão", explorando atrativos turísticos locais e suas histórias. Coordenado pelo Prof. Flávio José Valente, o projeto é gratuito e aberto à comunidade, com transporte fornecido pela Secretaria de Promoção Social de Poços de Caldas.
A Unabem, voltada para pessoas com mais de 60 anos e coordenada pela Prof. Adriana Gavião, busca elevar a autoestima, estimular a sociabilidade e desenvolver capacidades cognitivas. Juntos, o Projeto Turismo Educativo 60+ e a Unabem realizam aulas e visitas guiadas, de forma alternada, todas as quartas-feiras à tarde. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone(35) 9 8874-5236.